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Acessibilidade, um direito de todos!

 

Maio: Dia Mundial de Conscientização sobre a Acessibilidade

 

A Declaração de Madri (Espanha), de 2002, sugere um bom caminho para compreendermos o processo de inclusão social ao identificar que as ações estão deixando de ofertar acessibilidade. E há a necessidade da adoção de uma filosofia mundial de modificação da sociedade a fim de incluir todas as pessoas. As pessoas com deficiência estão exigindo equidade de oportunidades e acesso a todos os recursos da sociedade, ou seja, educação inclusiva, novas tecnologias, serviços sociais e de saúde, atividades esportivas e de lazer, bens e serviços ao consumidor.

 

O conceito de acessibilidade está descrito, na vasta legislação brasileira, como a condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004).

 

O tema é tão relevante que tem até um dia dedicado a sua conscientização, é o Dia Mundial de Conscientização sobre Acessibilidade (Global Accessibility Awareness Day, ou GAAD), criado em 2012.

 

Essa pandemia nos trouxe à baila essa questão tão importante, a acessibilidade digital, direito de eliminação de barreiras na disponibilidade de comunicação, de acesso físico, de equipamentos e programas adequados, de conteúdo e apresentação da informação em formatos alternativos. E como isso tem funcionado nos últimos tempos?

 

Houve uma ação conjunta com a BigData Corp e o Movimento Web para Todos (MWPT), em abril de 2020, para verificação dos 14,65 milhões de endereços ativos da web brasileira, governamentais e não governamentais, para avaliar se havia evolução em relação à acessibilidade deles para a navegação de usuários com algum tipo de deficiência. Infelizmente, ficou comprovado que 96,71% dos sites governamentais não atendem os critérios verificados por essa coleta. O resultado da análise revela ainda uma enorme dificuldade de adequação aos padrões técnicos de desenvolvimento Web, na maioria dos sites verificados, chegando apenas a 2% os sites com acessibilidade.

 

A falta de acessibilidade entre os sites brasileiros, porém, não ocorre por falta de demanda, pois, se pensarmos que, de acordo com o Censo 2010, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declararam ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas ou possuir algum tipo de deficiência, enxergamos um número expressivo, muito significativo e de fácil observação para se verificar a necessidade urgente de implementação de políticas públicas de qualidade que atendam a essa população. Oferecer acessibilidade não precisa ser dispendioso, é um potencializador de mercado, não atende apenas às pessoas com deficiência, isso é fato. É muito importante que o governo e a sociedade pensem em ações efetivas para incluir os brasileiros, independente de possuírem algum tipo de deficiência, em todos os lugares da sociedade para que tenham direito à Educação, ao emprego, à saúde e ao bem-estar.

 

A acessibilidade, ao mesmo tempo que gera bastante interesse, também sofre enorme resistência na hora de ser colocada em prática. O ciclo da inacessibilidade existe, perpetuando uma das mais perversas formas de preconceito existentes, o capacitismo. A sociedade imagina que as pessoas com deficiência não querem participar ou que são uma minoria, por isso, não compensa implementar a acessibilidade necessária. Só que se esquecem de que há uma questão de ordem muito prática, se não por empatia, por força de lei. É direito da pessoa com deficiência de viver em um ambiente em que se possa desenvolver suas habilidades sem depender de terceiros, desenvolvendo sua autonomia e independência. Acessibilidade é isso, é um direito, não é um mero detalhe. Não apostar na acessibilidade digital é desperdiçar uma oportunidade enorme para toda a sociedade.

 

Símbolo internacional de acessibilidade desenvolvido pelas Nações Unidas (ONU), em 2015, para identificar todos os serviços e locais acessíveis a pessoas com deficiência.

 

Seguem algumas dicas para que você possa ser cada vez mais inclusivo. Experimente, é mais fácil que você imagina!

 

Utilize o texto alternativo das imagens e gráficos, um recurso recente que vem sendo amplamente explorado nas mídias sociais digitais. Ainda não está disponível para o formato de vídeo, sendo necessário uma descrição objetiva do cenário acompanhada pelas hashtags #textoalternativo #pracegover e #pratodosverem – movimento criado para conscientizar as pessoas do contexto e da existência desse recurso na internet, no Instagram, no Facebook e mesmo fora da internet, nos arquivos Word, por exemplo. A ação também é uma provocação aos usuários incapazes de enxergar a diversidade.

 

Para que algumas pessoas consigam acessar as informações na web, quando se trata de vídeo, há a necessidade da audiodescrição, que é um recurso para pessoas com deficiência visual, intelectual, dislexia e idosos, consumidores de meios de comunicação visual, no qual se incluem a televisão, o cinema, a dança, a ópera e eventos das artes visuais. Porém, para que essa tecnologia funcione, ela depende que nós façamos nossa parte.

 

O uso da Libras nos textos, vídeos e apresentações é bem importante para as pessoas que são surdas e usam a Língua Brasileira de Sinais para se comunicar. Isso não quer dizer que sejam analfabetos ou que desconheçam a Língua Portuguesa, mas acontece que, por serem línguas distintas, principalmente na sua estrutura gramatical, algumas pessoas da comunidade surda dão preferência por se comunicar na sua língua materna. Assim, o uso da Libras se torna indispensável, seja por meio de aplicativo ou de intérprete/tradutor.

 

Pode até parecer simples e intuitivo navegar na internet. Por ser um mundo praticamente visual, com várias imagens que aparecem e acompanham a cada toque do mouse, para quem apresenta alguma deficiência visual, isso pode se tornar uma tarefa bem complexa. Contudo, isso não os impede de acessar a internet. Eles utilizam os leitores de tela. É uma tecnologia assistiva que converte texto em discurso sintetizado, permitindo que o usuário consiga ouvir a parte escrita e as imagens com texto alternativo. Extensões como o Evernote Clearly, que “limpa toda a página”, deixando apenas o texto escrito na tela, são de grande auxílio. Há um outro exemplo é o Color Enhancer, que cria um filtro personalizado de cores, especialmente para pessoas com daltonismo, adaptando a web visualmente. A utilização de fontes simples e do alinhamento à esquerda facilita, e muito, a compreensão dos textos.

 

O que é recomendável na acessibilidade da informação é jamais disponibilizar informações exclusivamente por meio de cores. Se for utilizar gráficos ou diagramas coloridos, deve-se colocar rótulos e descrições que liguem cada informação. Além disso, para diferenciar links do resto do texto, é necessário utilizar em conjunto algo mais estrutural, como um sublinhado, ícone ou botão específico.

 

Conseguiu aprender mais a respeito das ferramentas que tornam o universo da internet mais acessível? Já conhecia alguma dessas iniciativas? Então, coloque-as em prática, seja acessível! Lembre-se de que quanto mais multissensorial (mais sentidos forem acionados), mais acessível o conteúdo se torna. Vídeos com legendas, textos com áudios e imagens com descrições são bons exemplos de combinações sensoriais. Se for possível o uso de mais de uma dessas plataformas combinadas, o conteúdo fica mais inclusivo ainda!

 

Por Melissa Martins

Agente na Formação Cristã