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Com licença, posso entrar?

 

Com licença, posso entrar?

 

Se eu fosse te visitar hoje, eu chegaria à porta de sua casa e chamaria por você. Esperaria, com uma leve ansiedade, que você me atendesse. Abriria um sorriso ao te ver e, não sem antes pedir licença, aceitaria o convite que me seria feito para entrar.

 

Eu não iria reparar a bagunça. Não! Eu só aproveitaria a oportunidade de estar com você, de conversar com você. É por isso que eu iria te visitar. Passaríamos alguns momentos juntos, dialogando, trocando experiências… Ah, que pontes criaríamos entre nós!

 

Chegada a minha hora, eu pediria a você licença para me retirar. Já saudoso daquele encontro, eu te instigaria a que nos comprometêssemos com um novo encontro. Sairia, então, com calorosas despedidas, e regressaria à minha vida.
Mas acontece que, hoje, não posso te visitar. Esse encontro, desse jeito, não pode acontecer.

 

Desafiados pela distância, mudamos criativamente a maneira de sermos hospitaleiros. Hoje, somos convidados às casas das pessoas por meio dos recursos tecnológicos. Recebemos, também, em nossos lares, aqueles que virtualmente nos visitam. E como é bom, apesar dos pesares, ainda podermos fazer isso!

 

A hospitalidade que hoje praticamos é um compromisso mútuo: eu não posso visitar alguém sem, ao mesmo tempo, receber sua visita. Quando peço licença para entrar em sua casa virtualmente, eu também abro os braços para recebê-lo em minha casa – e, claro, peço que não repare a bagunça!

 

Não basta, contudo, visitar e receber visitas. O encontro deve permitir a fruição. Não importa a mediação tecnológica: essas visitas ainda são ações humanas. Duas pessoas, quando se encontram, quando se entregam àquele encontro, lançam as bases para a conexão que realmente importa: o que nos liga, o que nos une, é a nossa semelhante humanidade.

 

Se somos, ao mesmo tempo, anfitriões e visitantes, então estamos ambos com o desejo de bem acolher e com a expectativa de sermos bem acolhidos. A hospitalidade que nos compromete, assim, cria a nossa ponte. A ponte entre nós. E para atravessá-la, preciso dar o salto imaginativo que permita que eu me coloque no lugar do outro, compreendendo suas vivências, suas angústias, suas dores, suas alegrias – sua humanidade, enfim. Agindo assim, coloco-me em exercício de empatia. Atravesso a ponte para me colocar em seu lugar. Mas o seu lugar é também o meu. O que encontro em ti é o que sou. A empatia é a chave para enxergarmos no outro a humanidade que temos em nós.

 

Desafiados pelos tempos atuais, somos convidados à reflexão: a acolhida que desejo não é aquela que devo ofertar? A compreensão que espero não é a que devo praticar? A hospitalidade que desejo ter não é a mesma que devo oferecer?
As visitas que fazemos, não importam os meios, são sempre visitas de coração para coração. Não posso acolher o outro sem ser hospitaleiro; não posso visitar o outro sem ser empático.

 

Deixemos que nossos corações se visitem e que digam: com licença, posso entrar? Sim, mas não repare a bagunça!

 

Por: Prof. Ivan Bilheiro
Orientador Pedagógico