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Histórias do Pe. Cabada, SJ: o sorriso inspirador das crianças em um bate-papo casual

Leia a narrativa criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre uma conversa sobre a importância de sorrir para a vida

 

 

No bar

 

Estava sentado, calmamente, a mão direita tamborilando sobre a mesa e o rosto apoiado na mão esquerda. Rosto jovem. Cabelos despreocupadamente despenteados em simpático desalinho. Na frente, um copo de cerveja com um sorriso de espuma.

 

– Alô! Rubinho! – cantou a seu lado a moça de branco.

– Oi! Paula! Tudo azul?

– Azul? – sorriu ela – Talvez quando estiver lá na rua. Aqui, no bar, sempre tudo branco! E você?

– Como sempre.

– Então está feliz… ou não?

– Sim, sim! Completamente feliz!

 

A moça esfregava o pano sobre a mesa sempre no mesmo lugar.

– Quem vê você… sempre… assim… não sei explicar… Não pode deixar de sorrir. Você compreende. Não se pode ficar na chuva sem se molhar…

– Está falando bonito.

– Só acontece quando estou com você! Não é elogio, não. Você tem o rosto de quem não tem pesadelos… como se tivesse sido feito só para sorrir… Desculpe! Estou falando muita bobagem. É que eu não sei me explicar…

 

Ela acelerou o movimento de rotação do pano sobre a mesa. Ele, simplesmente, sorriu e depois comentou:

– Creio que você tem razão. Não acha? Só para sorrir! Só!

– Não queria ofender – desculpou-se a moça.

Ele pousou a mão sobre a mão da moça, levemente, como um pássaro.

– Ofender? Não entendo! Você diz… por isso? Foi isso que me fez feliz. Antes não era. Não sabia sorrir. Não sabia fazer os outros sorrirem. Só sabia dar gargalhadas e fazer os outros darem gargalhadas.

A moça apenas olhava, docemente, inclinando seu rosto.

 

– A alegria nos faz sorrir. O vazio do coração nos faz dar gargalhadas… Você viu como as crianças sorriem? Elas têm o coração cheio! Se a gente conseguisse crescer sem deixar de ser criança…!

– Você conseguiu.

– Não. Eu também esqueci a criança no passado. Agora é que, depois do que aconteceu, procuro trazer a criança de volta…

 

A mão levantou-se e a moça continuou a esfregar. Ele prosseguiu:

 

– Por isso gosto das crianças. Do sorriso delas. Do jeito delas. Elas são sempre alegres. São sempre bonitas mesmo quando choram. Olham sempre fixamente, cara a cara: não têm nada a esconder. Olhando nos seus olhos você vê tudo que têm dentro… No céu seremos todos crianças: tem que ser, não acha?

O sorriso dele foi caindo de mansinho sobre a mesa, sobre os olhos da moça e foi inundando tudo.

 

– Obrigada! Precisava disso, do que você falou. Não fica bem eu dizer isso, mas… quando estou com raiva, de mau humor, na fossa, ou qualquer coisa assim, penso em você e procuro sorrir… e fico um pouco mais feliz…

 

A moça afastou-se rapidamente para servir um freguês. Ele tomou o copo úmido na mão e esvaziou-o de uma vez. Com as costas da mão barbeou o bigode de espuma.

 

Ela chegou com uma garrafa de cerveja, abriu-a e deixou-a na mesa ao lado, com uma cabeleira branca no gargalo.

 

– Tenho que ir – Exclamou Rubinho, quando ela voltou.

– Ainda é cedo!

– Não posso abandonar meus estudos.

Ela sorriu.

 

– Pode trazer-me as…

A moça não esperou terminar a frase. Voltou rapidamente. Ajudou-o.

Despediram-se na porta com um sorriso de crianças.

 

Ele afastou-se lentamente, apoiado em muletas.

 

Pe. Cabada, SJ