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Histórias do Pe. Cabada, SJ: os bons e os maus sentimentos em “Posso ir ao banheiro?”

Leia narrativa criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre um diferente e curioso banheiro e o que carregamos no coração

 

 

Posso ir ao banheiro?

 

− Posso ir ao banheiro?

− Claro! Ao sair da sala, vire à direita.

− Obrigado!

Jacinto levantou-se e saiu. Jacinto não era da família. Era uma visita. Estudava na mesma

faculdade que a sua colega e amiga Líria, filha do casal Vera e Seném, os donos da casa. Seném estava ausente. Era a primeira vez que Jacinto visitava sua colega e amiga. Quando chegou, Líria tinha saído para comprar não sei o quê, bem pertinho, e Jacinto ficou conversando com a mãe dela, que o estava esperando, a pedido da filha.

Quando Líria chegou, Jacinto ainda não tinha voltado do banheiro.

− Jacinto não chegou? − Perguntou à mãe, logo que entrou na sala.

− Chegou, sim, mas foi ao banheiro.

− Explicou qual era o banheiro que devia usar?

− Agora quase ninguém usa o outro banheiro. Além disso, sempre está fechado.

− Bom sinal! − riu Líria.

− Foi uma ideia genial fazer um banheiro especial para esse tipo de cocô! − riu também a mãe.

− E se alguma visita quiser usá-lo?

− Quando essa visita vier, pensaremos no assunto.

− Já sabe − explicou Líria depois de uns instantes de silêncio − que Jacinto veio para estudarmos juntos para a prova de amanhã. A engenharia elétrica é mais complicada do que eu pensava.

− A escolha foi sua! Espero que as dificuldades não a assustem!

− Absolutamente! Elas me provocam e me desafiam. E eu gosto de desafios!

− Eu sei!

Nesse instante, Jacinto voltou à sala e cumprimentou sua amiga e colega, rindo:

− Bem-vinda à sua casa!

− Tome! − respondeu Líria, entregando-lhe um pacotinho.

− O que é isto? − perguntou Jacinto dando voltas ao pacotinho.

− Abra e saberá!

Jacinto abriu o pacotinho e caiu na gargalhada. Líria explicou:

− Agora não pode dizer que esqueceu alguma coisa porque não tinha onde anotá-la. Nesse pacotinho tem 600 fichas-lembretes coloridas. Acabaram as desculpas!

− Não gostei! − respondeu Jacinto com cara muito séria. − Agora vou ter o trabalho de procurar outra desculpa para os meus esquecimentos.

Mãe e filha riram da ocorrência de Jacinto.

− De qualquer maneira, muito obrigado. Mas eu gostaria de inaugurar os lembretes anotando alguma coisa importante sugerida por você, Líria, e que eu não posso esquecer! Pense!

Puxou uma cadeira, sentou-se à mesa, tirou uma caneta da mochila e uma ficha do pacotinho.

− Estou pronto! Pode falar!

− Amanhã… tem… prova! − ditou Líria, devagarinho.

− Ah! Não!… Pensei que seria algo mais romântico!

Mãe e filha voltaram a rir…

− Já sei o que vou anotar!!! − Animou-se Jacinto escrevendo em silêncio, e dobrando, depois, o bilhetinho do lembrete.

− Não vai mostrar? − reclamou Líria.

− É particular! − respondeu Jacinto, muito sério.

− E eu? Posso ver? − reclamou, também, dona Vera.

Jacinto respondeu, depois de pensar um pouco:

− A senhora pode!

Entregou o lembrete fechado a dona Vera. Ela abriu e leu só para ela: “Amanhã, levar um lírio para Líria”. Depois dobrou-o e o devolveu, rindo.

− Segredo!!! − Sussurrou Jacinto para dona Vera ao receber de volta o lembrete.

− Eu também quero saber! − Reclamou Líria.

− Saberá! − Replicou Jacinto. − Segredo é como remédio: tem data de vencimento.

− Quando é a data de vencimento desse segredo?

− Talvez amanhã!

− Bem, se só amanhã vou conhecer o segredo, é melhor começar a estudar.

− Certo! − Concordou Jacinto. − Mas, a não ser que também seja segredo, gostaria de saber por que, ao lado do banheiro que usei, há um banheiro fechado com um coração desenhado na porta.

Mãe e filha se olharam, como que querendo saber o que responderiam. Finalmente dona Vera decidiu-se. Pegou uma chave numa gaveta e a entregou a Jacinto:

− Tome! Abra e confira você mesmo!

Jacinto pegou a chave e saiu da sala. Mãe e filha ficaram em silêncio. Depois começaram a falar baixinho, como falam os corações que sempre estão perto…

Mais ou menos 15 minutos mais tarde, Jacinto voltou e devolveu a chave:

− Vamos estudar?

− Vamos! − Respondeu rapidamente Líria.

− Fiquem aqui! − Eu vou para o quarto, sugeriu dona Vera.

Aproximadamente uma hora depois, dona Vera desceu:

− Como é? Um lanchinho?

− Mãe, você leu os nossos pensamentos!

− Não! Eu li os seus estômagos!

− Que Deus conserve essa visão!

− Amém! – Riu Jacinto.

− Antes do lanche, Jacinto! − Quis saber dona Vera − Que achou do banheiro com um coração desenhado na porta?

− Muito bom, dona Vera!

− Descobriu para que serve? − Acrescentou Líria.

− Para o coração fazer cocô.

− Já tinha pensado alguma vez em algo parecido?

− Nunca! Nem imaginei que isso pudesse existir! Cocô do coração… − Riu Jacinto.

− Suponho que leu a “Guia”.

− Li e copiei no celular. Fiz bem?

− Fez muito bem! Então, já sabe. A primeira coisa é sentar-se no vaso…

− Preciso abaixar a calça?

Nem a mãe nem a filha esperavam essa pergunta. Por isso caíram na gargalhada!…

− Não é esse o caminho do cocô do coração. Mas, se se sentir mais confortável assim, pode abaixá-la. − Aconselhou, rindo, sua amiga e colega.

Jacinto também riu e continuou:

− E depois, é só seguir a Guia?

− Exatamente! Ela fica bem na sua frente, com letras bem grandes para facilitar a leitura, sem levantar-se do troninho.

Jacinto pegou o celular e começou a ler:

1) Sente-se no vaso e pense no cocô que tem no seu coração.

2) O seu Corpo é o “prédio” onde você mora, e a sua Cabeça é a “cobertura”, onde atende a

Dra. Mente. Vá até lá! Ela lhe explicará que o cocô do coração são “vírus muito nojentos

chamados egoísmo, inveja, ingratidão, ódio, raiva, vingança e muitos outros…”

3) Ela lhe dará “um laxante para acelerar a expulsão desses vírus”. Com o laxante, você receberá duas chavinhas com um coração no lugar dos dentes e um aviso: “Pendure uma chavinha na cabeceira da cama e outra no seu pescoço. Com elas, abra as portas do seu coração para expulsar esses vírus e feche-as para evitar a sua volta”.

4) Finalmente, a doutora lhe entregará um envelope com uma etiqueta onde se lê: “ADP”, 

que é um fortificante, e recomenda que leia a bula.

5) Você agradece: “Muito obrigado!” − A Dra. Mente se despede: “Volte sempre!”.

6) Você se levanta, vai até a janela, abre-a para arejar e deixar a luz do sol entrar.

7) E, à luz do sol, lê a bula do fortificante: “ADP” significa “Amor a Deus e ao Próximo”.

8) Então, lê também o verso da folha: “Siga o roteiro dos ‘10 Mandamentos’. USO DIÁRIO”.

Jacinto guardou o celular sem fazer nenhum comentário. Depois de um tempinho, o suficiente para que seu rosto adquirisse a forte expressão de quem está tentando recordar alguma coisa importante, exclamou:

− Eu vi, também, uma cestinha com papéis que pareciam mensagens.

− É uma coleção de receitas para ter um coração bom e saudável. − Explicou dona Vera.

− Eu peguei uma! Posso levá-la?

− É para isso que está lá! Podemos saber qual escolheu?

− Uma que fala de uma vacina para o coração, chamada “BOM HUMOR”, que cria anticorpos contra qualquer tipo de ameaça.

− Escolheu a nossa preferida! − Concordou dona Vera.

Depois de alguns instantes, Jacinto comentou:

− Talvez no meu pequeno apartamento caiba mais um banheiro…

− Se não couber, o nosso banheiro está à sua disposição. − Riu sua amiga Líria.

Depois dessa longa conversa, chegou, finalmente, a hora do lanchinho…

 

***

 

No dia seguinte, Líria fez a prova com um lírio no cabelo e um Jacinto no coração…

 

Pe. Cabada, SJ

Não fique acanhado(a)! Vá ao banheiro!