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Páscoa

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, em sua grande misericórdia, nos gerou de novo, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para a esperança viva […]” (1 Pedro 1,3)

 

A Páscoa cristã tem origem no judaísmo. Libertando-se da escravidão no Egito, o povo hebreu foi conduzido por Moisés para viver, na Terra Prometida, a realidade do serviço filial ao verdadeiro Deus. De escravos e oprimidos que eram, os hebreus foram levados a experimentar a condição de uma vida livre e repleta de novas possibilidades. Trata-se de uma passagem da opressão para a liberdade.

 

No tempo de Jesus, os judeus se encontravam sob o julgo da dominação política e religiosa. Por todo lado, era possível notar a violência, a miséria e a exclusão. Ao enfrentar esse sistema de opressão que explorava as pessoas, o filho de Deus despertou a ira dos poderosos e foi injustamente condenado à pior morte de seu tempo, na cruz. Mas foi ressuscitado pelo Pai no terceiro dia e, assim, legou para os seus seguidores, de ontem e de hoje, uma esperança viva. Nesse caso, deu-se a passagem da morte para a vida.

Esse evento central da fé cristã animou os primeiros cristãos a manterem viva a memória do Crucificado-Ressuscitado, e o fizeram em celebrações comunitárias que atualizavam o grande Mistério Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Por isso, ainda hoje, cada vez que a comunidade de fé se reúne para celebrar a Eucaristia, sacramentalmente, assume para si o compromisso de, em meio às dores e aos sofrimentos inerentes à condição humana, renovar a esperança de que um mundo melhor é possível. Nessa comunhão celebrativa, cada um se une espiritualmente a Jesus para morrer e ressuscitar cotidianamente, com Ele, até o dia da Páscoa definitiva.

 

Como tirar consequências práticas desse acontecimento pascal para a caminhada de fé? Reconhecendo que, mesmo nas dificuldades e asperezas do caminho, a possibilidade de superação sempre existe. Por isso, com o auxílio da graça divina, é preciso lutar com força e coragem. O atual momento de pandemia mundial, por exemplo, causa perplexidade, medo e desânimo. Mas, para aqueles que professam a fé cristã, o comprometimento com a esperança desperta o foco em atitudes afirmativas como a adoção de medidas preventivas, o cuidado mútuo, a resiliência, a solidariedade à dor do outro e a luta constante pela defesa da vida. Essa postura esperançosa, num momento em que predomina a escuridão, acende luz no fim do túnel.

 

Outra consequência significativa pode ser a aquisição da consciência de que sempre é possível transcender as dificuldades e, à luz da fé cristã, renovar, sempre e a cada vez, o sentido da existência. Estamos de passagem e, nessa peregrinação terrestre, aceitar as fragilidades e potencialidades, como possibilidades do caminho, impulsiona a atitude permanente de abertura ao aprendizado. Se por um lado a condição de vulnerabilidade nos expõe ao risco de sofrer, por outro, a capacidade de encarar os infortúnios, como oportunidade de crescimento, gera em nós a disposição necessária para seguir adiante, aconteça o que acontecer.

 

A celebração da Páscoa oferece, pois, a oportunidade de mergulharmos no mistério da Ressurreição de Cristo. Mais uma vez, podemos bradar aos quatro cantos que a vida venceu, aleluia! Fica o convite, então, para haurirmos desse evento fundador de nossa fé a aprendizagem que impulsa ao testemunho da verdadeira alegria pascal, qual seja: viver com fé, esperança e sentido renovados.

 

Por Marcelo Sabino

Coordenador da Formação Cristã