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A verdade e a educação no mundo das “guerras TikTok”

Um relatório da Microsoft mostrou que, entre julho de 2020 e julho de 2021, 58% dos ciberataques a organizações públicas e privadas, no mundo, partiram de um só lugar: da Rússia. O professor da Fundação Getúlio Vargas, Luca Belli, falando ao podcast “Café da Manhã”, vaticinou: estamos vivendo uma nova era, a era das guerras híbridas, ou seja, guerras em que o alvo é o prestígio, a imagem e o funcionamento das instituições do país inimigo. As guerras mudaram, e nossa vida também. A realidade digital tem o poder de tornar real o que é apenas virtual.

 

Se, em uma guerra, a primeira vítima é a verdade, na era das guerras híbridas, das deepfakes (manipulação de imagem e voz de pessoas famosas, fazendo com que elas apareçam dizendo algo que não disseram de fato) e das fakenews, nunca foi tão importante educar para um aprendizado que dê luz a um espírito crítico, seletivo, questionador e empoderado. Nunca foi tão importante falar das ameaças que a manipulação da realidade pode trazer ao mundo e à nossa rotina. O mundo parece veloz e líquido. A verdade perde-se no feed nosso de cada dia.

 

Vivemos a primeira guerra transmitida 100% em tempo real. A Guerra da Ucrânia já é chamada de “guerra TikTok”. Se Zygmunt Bauman chamava a atenção para uma “modernidade líquida”, ainda antes do advento destes “modelos de guerra”, agora, é necessário, ainda mais, que nos atentemos à “era da pós-verdade”.

 

Como a educação fica nisso tudo? A educação deve fazer isso: ficar. Deve prevalecer a bravura do espírito crítico, que convida a leituras mais demoradas, à leitura calma e sapiente. A educação deve fazer ficar o senso de justiça, de compaixão e de criticidade, deve fincar fundo o mastro do empoderamento intelectual em um mundo que caminha na velocidade do 5G, mas tem um senso crítico com pés de barro. Na era da pós-verdade, velocidade pode rimar com mediocridade.

 

A educação deve, portanto, ocupar os espaços digitais. Disciplinas como Redes Sociais e Empreendedorismo, História, Filosofia, Sociologia, Geografia, Ensino Religioso e tantas outras têm o dever de enunciar a “boa velha”, no mundo das “boas novas digitais”. A “boa velha” é: interpretar, refletir, ler, questionar, empoderar-se.

 

Sobre essa realidade, indico, fortemente, a leitura do seguinte artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil: “Guerra da Ucrânia: imperialismo e comunicação”. Ele pode ser acessado em: https://diplomatique.org.br/guerra-da-ucrania-imperialismo-e-comunicacao

 

Por Filipe Queiroz de Campos
Professor de História