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Gosto de ser professor

 

Gosto de ser professor.

 

Como você leu essa frase? Como uma afirmativa em que digo que aprecio minha profissão de professor? Até aprecio. Mas a intenção da frase é outra: falo do “gosto”, do sabor mesmo. Não é um verbo, é um substantivo.

 

É possível ir além: com “ser professor” não necessariamente me refiro ao meu exercício de professor. Posso falar da existência desse “ser” fascinante e batalhador que é o professor (que são todos eles!), dedicado às causas da Educação.

 

Agora, releia: gosto de ser professor. Sabor de vocação. Tempero de Educação.

 

É comum se dizer que para ser professor tem que gostar da profissão. Gostar, em certo sentido, indica sentir e saborear o que é oferecido, entregar-se à experiência e sorver sua essência. Por isso, em homenagem aos professores, escolhi falar desse gosto de ser professor.

 

Uma homenagem, para ser boa e digna, deve ser justa. Deve estar à altura daqueles a quem se pretende elogiar. Então, para alcançar essa justeza, como deve ser um elogio aos professores? Uma acertada homenagem deve louvar, com doçura e delicadeza, a beleza da vocação; ou precisa descrever, com acidez e certo azedume, a realidade laboriosa da profissão?

 

A pergunta já coloca parte da receita: ser professor oferece um gosto complexo, um misto de vivências que qualquer imagem simples trairia. Este texto é, então, desde o seu princípio, uma traição. Jamais alcançaria a grandiosidade do ser professor. Mas, ao reconhecer isso, busca honestamente aplaudir o dom dos que se dedicam àquela missão. Homenagear os professores exige reconhecer, sem cerimônia, toda a sua luta; mas, ao mesmo tempo, é preciso saber enxergar todo o seu brilho.

 

Quem é professor sente os percalços cotidianos de se dedicar a uma profissão que exige muito empenho, grande esforço, enorme doação. Provas e prazos, relatórios e revisões, estudos e estudantes, questões e questionamentos – esses são alguns dos ingredientes que pesam a responsabilidade de quem tem por foco a formação de crianças e jovens para o mundo.

 

Mas, sendo professor, também ganha-se o privilégio de saborear o viço do conhecimento em sua melhor expressão: na partilha através do diálogo. A felicidade de ver o crescimento das crianças e dos jovens, sua evolução nas trilhas de aprendizagens, seu irromper para o mundo adulto, oferecendo para cada uma das ávidas mentes um pouco daquilo que tão carinhosamente é preparado, e colhendo com elas muitas riquezas – tudo isso é parte da experiência ímpar de ser professor.

 

O gosto de ser professor é uma analogia, e uma analogia serve para comunicar algo cuja complexidade não permite ser dita diretamente. A analogia aproxima a experiência.

 

Um prato bem servido pode ser encantador aos olhos e até agradar ao olfato, mas só encontra sua essência de ser quando degustado. Quando quem o recebe passa a saboreá-lo. Assim, o gosto do ser professor só completa sua missão no encontro com os estudantes. O apogeu de um prato é o seu degustar, e o ápice do gosto de ser professor é a possibilidade de ter sua vocação sorvida como alimento pelos jovens.

 

O preparo do que será servido requer muito trabalho. Envolve cuidado, carinho, dedicação, suor e (às vezes, por que não?) algumas lágrimas. A entrega é especial, a experiência do saborear é única. Note que essa descrição serve para um bom prato, mas também para uma bela aula. Em ambos os casos, o melhor resultado se dá quando o tempero é de coração. E o que há no coração, na essência, no âmago do ser professor? Educação, esta missão que cada um dos professores tem de semear o conhecimento e potencializar os jovens responsáveis pelo mundo do futuro.

 

Pergunte aos seus mestres: “Por que você é professor?” (eu, particularmente, fiz essa experiência e agradeço aos colegas com quem pude aprender a partir dela). O que você encontrará é o gosto de ser professor. Um gosto que precisa ser saboreado em sua complexidade.

 

A melhor reverência que se pode fazer ao professor é reconhecer a complexidade de seu trabalho e, assim, no encontro com sua saborosa vocação, enxergar todo o esforço que permite a experiência da Educação. E são os estudantes os privilegiados desse manjar. É por eles, sempre por eles, que a vocação existe. Eles devem gostar, sentir e saborear o gosto de ser professor. No encontro da aula, a culminância do ser professor – um ser que quer ser futuro através dos estudantes, entregando-se como alimento às suas mentes.

 

Afinal de contas, nossa vocação é um gosto. Sentir e saborear a docência é uma dádiva: poder oferecer alimento para a alma. Temperar o mundo com Educação. Que missão gostosa!

 

Por Prof. Ivan Bilheiro

Orientador Pedagógico