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Histórias do Pe. Cabada, SJ: a esperança que nos rodeia em “Céu bonito”

Leia a narrativa criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre um convite para voltarmos os olhos para as belezas da vida

 

 


Céu bonito
(Historinha real de ponta a ponta! — No cruzamento da Av. Independência, atual Av. Itamar Franco, com a Av. Rio Branco.)

 

Foi uma longa e tranquila conversa na minha sala, apesar das circunstâncias. Seu pai tinha falecido fazia pouco mais de uma semana. Ela e a mãe preferiram passar os primeiros dias após o falecimento na casa de uma tia, em vez de ficarem sozinhas no apartamento. Agora era necessário prepará-lo para a volta. Por isso, tinha vindo conversar comigo, como fizera tantas vezes, desde que era adolescente e aluna do Colégio.

 

— Bem, agora tenho que ir — disse. — Sei que, ao entrar no apartamento, todas as coisas vão recordar-me meu pai. Vou chorar… mas preciso ir… Depois lhe conto como foi.

 

Despediu-se e saiu.

 

No dia seguinte voltou.

 

— Você não vai acreditar! — começou a contar. — Não chorei! Cantei! É isso mesmo! Cantei!

 

Diante da minha estranheza, ela explicou:

 

— Ao sair daqui, fui caminhando pela calçada, pensativa, devagar, com a cabeça baixa. Parei no sinal vermelho, antes de atravessar a avenida. Quando o sinal abriu e entrei na avenida, quase bati contra uma velhinha que vinha em sentido contrário. Ela me parou e disse:

 

— Moça, você viu que céu azul bonito há lá em cima?!

Surpreendida por aquelas palavras, levantei a cabeça e olhei. É! Havia um céu azul bonito lá em cima. Mas quando abaixei a cabeça para falar com ela, já não estava ao meu lado. Olhei para trás e a velhinha já tinha alcançado a calçada e se perdia no meio da gente. Corri para alcançar o outro lado da avenida, antes de o sinal fechar, sem deixar de olhar para o céu.

 

Como não tinha percebido até agora que havia lá em cima um céu tão bonito? — pensava.

 

Caminhei até o prédio, admirando aquele azul profundo, e foi completamente transformada que entrei no nosso apartamento. Enquanto tirava o pó e arrumava os móveis, cheguei mesmo a cantar… Tudo porque aquela velhinha, que nunca tinha visto na minha vida, me fez levantar os olhos do chão e fixá-los naquele “céu azul bonito, lá em cima”.

 

Pe. G. Cabada, SJ.