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Homenagem à professora Adriana Costa Henriques

Hoje, os pincéis estão secos, as portas do teatro estão fechadas, a poesia não quer fazer rimas e a música tem seus acordes abafados, muito abafados. A artista, que um dia virou obra de arte no olhar e nas mãos de uma estudante do 6 ano D, não está presencialmente. Aliás, que ironia esta palavra! Presencialmente… Quantas vezes a ouvimos neste tempo que já se completa um ano de muitos desafios? Como foram os sentimentos nesse tempo? O que fizemos? Como fizemos? E, como faremos? Como foi o tempo em que vivemos antes do ciclo que estamos? São perguntas que não sei dizer.

 

Mas hoje, posso dizer com certeza uma coisa: A artista, que não mais está conosco, fez muito… muito! Seus pincéis coloriram a vida, seu sorriso marcante fez sorrir outros lábios. Suas palavras em tonalidade maior, vieram em melodias que faziam sentido aos nossos ouvidos, e com candências rítmicas que levaram os pés a calçar os sapatos e a dançar o ritmo da música.

 

Para que a obra de arte possa existir, são necessários três elementos: o artista, o observador e a obra de arte. A artista um dia se emocionou ao se ver em uma obra de arte, de sua aluna, tornando-se os três elementos em um só. Será que isso é para poucos? Sim. Isso é para aqueles que colocam seu coração, sua vida, suas mãos e pincéis em uma tela totalmente branca, em uma partitura sem notas, e um teatro ainda sem o público, em um livro ainda sem a rima, e tem a coragem de arriscar e riscar a primeira cor, a primeira nota, a primeira página e o primeiro acorde.

 

Então, fazer arte é correr o risco de que aquela obra aos olhos do artista não fique um espetáculo, mas que pode, ao mesmo tempo, mudar a vida do espectador, da plateia. Acho que não, não, não … isso é não é fácil para muitos de nós! Mas fazer da vida uma obra de arte é para todos nós, que estamos abrindo os corações ao outro e cuidando uns dos outros, é para todos nós que estamos trazendo a empatia, mesmo on-line, apenas com a janelinha, com a câmera e o microfone, já que neste tempo em que estamos vivendo, neste um ano, as cortinas do teatro não podem ser totalmente abertas para que, juntos e misturados, possamos vivenciar as mais belas e variadas formas de artes.

Fazer da vida uma obra de arte é para todos nós, que estamos colocando nossas mãos em pincéis molhados com as mais variadas cores, sujando os jalecos de tinta, giz, canetas, e em tempos remotos, dormindo tarde e acordando cedo, trazendo tudo isso através da tela que está ao alcance das mãos, com o objetivo de que a que a obra de arte fique pronta a tempo.

 

Fazer da vida uma obra de arte é para todos nós, que buscamos a coragem, mesmo quando não a temos, e arriscamos na obra. Há muito tempo, entendemos que arte é expressar sentimentos, emoções, vivência e cultura. Como disse um estudante do 9°ano, é algo que a gente imagina, inventa… e como de fato, imaginamos, criamos e nos expressamos. Se realmente expressarmos o que nos é interno e transformamos em artes, em nossa vida, poderemos dizer, sem dúvida, que nossa experiência nos é prazerosa, como nos afirma Duarte Junior.

 

A experiência que a arte nos proporciona é, sem dúvida, prazerosa. E este prazer provém da vivência da harmonia descoberta entre as formas dinâmicas de nossos sentimentos e as formas do objeto estético. Na experiência estética os meus sentimentos descobrem-se nas formas que lhes são dadas, como eu me descubro no espelho. (DUARTE JUNIOR, 1983, p.60, apud LEITE, 2017).

A obra de arte é uma coisa mesmo incrível, e quando a imaginamos, não podemos de fato ter a certeza do resultado, mas à medida que vai sendo trabalhada, vai ali também transparecendo e traduzindo nosso ser.

 

De muitas perguntas que me fiz no início de texto, muitas delas ainda não tenho resposta, mas o que sei é que: a artista que virou obra de arte e foi os três elementos ao mesmo tempo, se expressou, se emocionou, vivenciou, experimentou, e sua obra perpetuará ao lado da coletânea de músicas, da escrita literária e da cena de grandes criadores. E nós, se ainda não fizemos, não podemos esperar mais!!! É preciso pegar os pincéis, tocar o acorde, abrir as cortinas, calçar as sapatilhas e fazer as rimas. Expressar sentimentos, hoje, talvez seja difícil, mas o que nos cabe é caminhar lado a lado, artistas, observadores e obras de arte.

 

Muito obrigado a você, Adriana Henriques, querida artista, que se viu em uma obra de arte.

 

Por Leandro Miranda Elias
Professor de arte/música