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O grêmio forma?

 

 

Nas últimas semanas, os estudantes do Colégio dos Jesuítas participaram do processo eleitoral para escolha do novo Grêmio Estudantil. Eles foram convidados a se reunir, montar chapas, pensar em propostas, apresentar suas ideias e, voilà, escolher aqueles que irão os representar. Queremos, nas linhas abaixo, refletir sobre esse processo e sobre a formação que ele possibilita.

 

No clássico Paideia: a formação do homem grego, o filósofo alemão Werner Jaeger nos advertiu que “a educação não é uma propriedade individual, mas pertence por essência à comunidade”. Isso corresponde a dizer que em todo processo educativo, seja ele escolar, familiar, profissional ou nacional, está implicado, mais que em qualquer outro âmbito da vida, um influxo da comunidade sobre seus membros. Note que esse fluxo ocorre preponderantemente na direção do todo para o particular, do grupo para o indivíduo. Nada mais natural! Formar não é outra coisa senão o ato de, deliberadamente, produzir determinada forma no que antes não a tinha. Formar é, inarredavelmente, um projeto da comunidade para incutir em seus membros determinados parâmetros previamente intencionados.

 

Talvez essas palavras soem um tanto quanto antiquadas, acostumados que estamos com os recentes apelos por uma individualização das trajetórias formativas. Um certo tipo de formação engessada que tivemos no passado coloca nossas orelhas “em pé” quando empregamos o termo formar no sentido acima. Para que não nos entendam mal, digamos em nossa defesa: é perfeitamente possível formar para a pluralidade e para a autonomia, o que é bem diferente de abrir mão de dar forma por medo de que isso signifique algum tipo de opressão.

 

Seja como for, ao fim e ao cabo, a pergunta de fundo que não pode deixar de ser feita para qualquer processo que mereça o nome de educação/formação é a seguinte: qual a forma que queremos que nossos estudantes, filhos e concidadãos assumam? A Rede Jesuíta de Educação responde, em seu Projeto Educativo Comum (PEC), da seguinte maneira: queremos formar cidadãos conscientes, competentes, compassivos e comprometidos na construção de um mundo mais justo, fraterno, solidário, inclusivo e cristão. Ao término de um longo processo, é essa a forma que esperamos que nossos estudantes assumam.

 

Estamos agora em condições de responder à pergunta do título: o grêmio forma? É bastante claro que sim, basta que pensemos nas inúmeras habilidades que serão desenvolvidas pelos alunos e alunas, membros da gestão atual ou não: será necessário dialogar entre os pares, discutir ideias, selecionar e hierarquizar demandas; será necessário aprender a lidar com o júbilo da vitória sem perder o discernimento, aprender a lidar com a frustração da derrota sem perder a garra; será necessário, ainda, ter empatia com as ideias alheias, humildade com as próprias opiniões e, acima de tudo, comprometimento com o grupo. Tudo isso é, invariavelmente, um processo de dar[-se] forma.

 

Por outro lado, a reflexão sobre o grêmio que gostaríamos de compartilhar é uma outra: trata-se da possibilidade de, através do grêmio, inverter o fluxo sociedade → indivíduo que mencionamos acima.

 

A cada nova geração, a juventude renova seus esforços na tentativa de ser ouvida, em vez de apenas ouvir. Às vezes com mais sucesso, às vezes com menos sucesso, a depender de cada contexto. A grande questão é: como a juventude pode ter sua voz ouvida e contribuir ativamente para a própria formação e para a formação social? Quer nos parecer – e as palavras de Jaeger citadas vêm ao nosso auxílio – que quanto maior for o grau de organização e consciência comunitária, maior será a possibilidade de responder favoravelmente a essa questão. Ao contrário, quanto maior o grau de atomização dos indivíduos, mais a voz de cada estudante se perderá na noite, “onde todos os gatos são pardos”.

 

Assumir, assim, protagonismo na formação, através da experiência comunitária do grêmio, é formar-se e ajudar a formar. É o que buscamos proporcionar aos nossos estudantes inacianos.

 

 

Prof. Pedro Victor Monteiro