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Os usos políticos do passado e os porquês de estudar História

 

A História não está pronta, ela não é fixa, pois não existe uma verdade absoluta, uma vez que sofre uma reescrita constante. A História é uma disciplina que procura responder às principais perguntas do presente e, nessa conjuntura, são extremamente relevantes os diversos olhares para o passado que abrem os espaços de lutas de memória. É nesse sentido que, para o nosso início de conversa, destaco um ponto de partida essencial de que o passado é tão misterioso quanto o futuro. As narrativas construídas dependem das apropriações que foram feitas e dos interesses dos sujeitos históricos em seus diversos tempos e espaços. Percorreremos aqui o caminho de alertar a todos e todas sobre os usos políticos do passado para depois mergulharmos mais fortemente sobre os motivos essenciais de estudarmos História.

 

 

Os usos políticos do passado devem ser avaliados, porque não existe neutralidade científica, já que os atores sociais interpretam o passado de acordo com os seus propósitos. É preciso ter esse cuidado ao revisitar as memórias, que, na maior parte das vezes, são marcadas por lembranças e esquecimentos. Nessa linha de raciocínio, costuma-se exaltar aquilo que é mais conveniente no jogo de interesses e apaga-se o que se elegeu que não deve ser lembrado.

 

 

Uma das formas de aprofundarmos o conhecimento histórico é a interdisciplinaridade. Estudar História tem mais sentido quando o conhecimento é interconectado, formando uma teia de possibilidades de relações entre os elementos pesquisados. Como dissera Marc Bloch, é essencial estudar a história dos homens no tempo, e não apenas de fatos estanques e impermeáveis. Nesse aspecto, é importante lembrar como se relaciona a história ao homem e ao tempo e como visualizam os seus ídolos, e o que se entende por passado e presente. A partir daí, poderemos perceber melhor as apropriações políticas do passado.

 

 

Uma maneira interessante de estudar História consiste em legitimar vozes que não foram ouvidas. É reconhecer que a História também é vista de baixo, porque ajuda a convencer aqueles de nós nascidos, sem colheres de prata, de que viemos de algum lugar. É justamente nesses lugares onde as identidades foram escondidas que poderemos escavar a busca de outras narrativas que ainda não conhecemos, inclusive de pessoas comuns, que quase sempre foram relegadas pela História dita oficial e supostamente portadora da verdade.

 

 

Portanto, mergulhando mais profundamente na pergunta essencial aqui “Por que estudar História?”, reitero a importância de não só olhar, porém reparar com detalhes a realidade, decodificar os problemas que o mundo nos mostra e apresentar alternativas, que não proclamem o fim da História, mas uma eterna possibilidade de criação e reconstrução de trilhas, as quais possam levar os homens a vislumbrarem formas de admirarem os diversos projetos de vida.

 

 

Estudar História é se debruçar sobre as questões de cidadania e inclusão social, é pensar na alteridade e empatia para a construção de um mundo melhor. Nesse sentido, torna-se evidente, na contemporaneidade, a importância da História para garantir a permanência de conquistas sociais como democracia, direitos humanos e respeito às minorias. A História nos possibilita compreender melhor o papel do homem enquanto animal político, um ser dotado de inclinações culturais e sociais, que ultrapassam o individualismo.

 

 

De forma geral, a História nos faz construir o conhecimento e produzir ações de cidadania capazes de transformar as vidas humanas nos seus reconhecimentos de estórias, legitimidade de narrativas e de lugares de fala dando vozes àqueles que foram pouco escutados ao longo do tempo, reescrevendo trajetos e possibilidades novas.

 

Bibliografia:

BURKE, Peter. A escrita da História, novas perspectivas. São Paulo. Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.

 

 

______. A Escola dos Annales: 1929-1989. A Revolução Francesa da historiografia. São Paulo: Editora Unesp, 1997.

 

 

WHITE, Hayden. O fardo da história. In:_. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: Edusp, 1994.

 

 

https://www.cafehistoria.com.br/o-que-sao-usos-politicos-do-passado/.

 

Por Leandro de Almeida Silva
Professor