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Voluntariado: uma resposta à pergunta, para que eu sirvo?

 

Faço um convite para o olhar que nos pede o cuidado. Cuidado para percebermos a beleza da resposta que podemos dar à pergunta: para que eu sirvo? Saber o nosso lugar no mundo é de extrema importância, já que somos, por excelência, buscadores de sentido para a nossa breve peregrinação, se comparada ao tempo de vida dessa casa comum. Uma resposta qualificada demanda de nós a tomada de consciência do eu, daqueles que, por uma razão transcendente, têm a oportunidade de ser contemporâneos da nossa existência, dos que foram cuidadores desse mundo e do futuro que nos habita em sonhos. Diante disso, uma reflexão: que mundo queremos criar, enquanto não descansamos? Eis uma eleição pertinente para uma vida significativa.

 

Frequentemente temos oportunidades de olhar para o lado e vermos alguém carente do nosso serviço. Uns mais que outros. Todavia, muitas vezes negligenciamos o servir, pois o “trabalho nos chama”, “o tempo urge” e, até mesmo, “o tempo é dinheiro”. O grito dos que sofrem ao nosso lado é escutado, porém, nem sempre ouvido. Vemos o outro na superficialidade condicionada por nosso cotidiano atarefado. A lógica da vida, orientada pelo consumismo, não raras vezes nos transforma em um ter humano e, assim, abandonamos a nossa morada de ser, ser humano. Por conseguinte, os invisíveis permanecem invisíveis, os excluídos permanecem excluídos, os “descartados” permanecem nas periferias. Será que, neste caso, o distanciamento tenha se tornado um subterfúgio para não sermos contaminados pelas mazelas do mundo (A Lepra Humana – Lv 13; Os dez leprosos – Lc 17, 11-19)?

 

Na percepção de um mundo ferido, propomos, aos olhos de Cristo, o aprofundamento do cuidado com aqueles que carecem, cada vez mais, de compaixão e de cura (Ensino e curas pela Galileia – Mt 4, 23). A cura para os males: “Chamando os doze, Jesus deu-lhes poder para expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doenças e enfermidades” (Mt 10, 1). Doar tempo é doar vida, é doar de coração os nossos dons, aquilo que temos de mais precioso em favor daqueles que nada podem pagar (A oferta da viúva – Lc 21, 1-4). Essa oferta de amor é uma proposta que nos compromete com a criação de um mundo novo. Aceitemos o convite para um “Caminhar com os pobres, os descartados pelo mundo, os vulnerados em sua dignidade, numa missão de reconciliação e justiça” (Segunda Preferência Apostólica Universal – Companhia de Jesus).

 

Porém, ninguém pode ser forçado a fazer o bem, ninguém pode ser obrigado a curar as feridas daqueles que estão à beira do caminho (O bom samaritano – Lc 10, 25-37). É imprescindível respeitar a humana liberdade interior para dispor-se a uma jornada, seja ela qual for. (O filho pródigo – Lc 15, 11-32). O serviço deve ser fruto da vontade ao seguimento do Senhor (O jovem rico – Mt 19, 16-30).

 

De origem latina, traduzimos o termo vontade como disposição proveniente da liberdade interior para o serviço ao outro e aos seres vulnerabilizados por realidades injustas. Daí surge o voluntariado. Ele pode ser motivado por uma filosofia de vida, por uma religião, por valores humanitários, por uma proposição moral, mas procede, impreterivelmente, do querer mais íntimo. Aos que carecem de respostas àquela pergunta: “para que eu sirvo?”, o voluntariado irrompe as fronteiras do egoísmo, do individualismo e, principalmente, da “universalização da indiferença” (Papa Francisco) e nos lança diante dos pequenos do nosso mundo.

 

No dia 05 de dezembro, celebramos o Dia Internacional do Voluntariado, uma oportunidade para escutarmos o grito dos que clamam e nos dispormos para a construção de uma “terra sem males” (Campanha da Fraternidade – 2002). Um dia para o despertar da caridade humana e encontrar formas criativas para alimentar os famintos, saciar os sedentos, acolher os estrangeiros, agasalhar os desamparados, cuidar dos enfermos, visitar os cativos (Mt 25, 31-46) e curar a terra ferida que clama por cuidado (Laudato Si, 2). “O próximo sem fronteiras” (Fratelli Tutti, 80-83) revela o rosto sofrido de Deus que impulsiona o coração solidário ao voluntariado. Este, por sua vez, leva a esperança e recebe e colhe o fruto da missão, a saber, alegria de ver o outro sorrir novamente. Ser voluntário, portanto, é doar a própria vida na medida certa para reacender a vida que tenta viver. O tema do Ano Inaciano, “Ver novas todas as coisas em Cristo”, nos convida ao olhar de esperança no intuito de construir uma “cidadania global” para responder aos apelos do mundo com a ação contemplativa, que foi tão bem recomendada por S. Inácio de Loyola.

 

Por Angelo Márcio de Oliveira Reis

Agente da Formação Cristã