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Histórias do Pe. Cabada, SJ: a importância da fé e da força em ‘Os dois efes’

Leia narrativa criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre fé e força, num diálogo simpático e sensível entre neta e avô

 

Os dois efes

 

Laura Clara chegou em casa e seguiu direto para a sala. Deixou a mochila numa cadeira e foi abraçar e beijar o avô, que estava lendo, atentamente, um livro.
− Bom dia, vô!
− Bom dia! − Repetiu o avô, deixando o livro aberto sobre os joelhos e correspondendo ao abraço da neta. Tudo bem? Muita coisa para estudar?
− Para estudar não, mas o professor de Ensino Religioso nos deu um trabalho para entregar na próxima semana.
− Sobre o quê? − Interessou-se o avô.
− O ser humano. − Explicou a neta, sentando-se ao seu lado.
− O ser humano! Interessante! O professor deu alguma pista?
− Não. Apenas que tentássemos ser originais.
− Parabéns para o seu professor! Ser originais é muito importante! Disse mais alguma coisa?
− Que podíamos pesquisar na internet, entrevistar pessoas… − E a menina acrescentou com um sorriso maroto: − Mas eu já sei quem vou entrevistar.
− Quem? − Perguntou o avô?
− Você, vô! − Riu a neta.
− Sabia! − Riu também o avô.
− Podemos começar? − Perguntou, toda animada, Laura Clara.
− Podemos! − Interrompeu a mãe de Laura Clara, aparecendo na porta da sala. − Podemos começar a almoçar. Caso contrário, eu vou almoçar sozinha!…

E, numa mesinha pequena e familiar, dentro da cozinha, começou o almoço, continuou o almoço e acabou o almoço! Um almoço com a boca muito ocupada, alternando uma gostosa comida com uma gostosa conversa…

Depois do almoço, uma sestazinha!… E depois da sestazinha, Laura Clara continuou a conversa com o avô, agora, na sacada do prédio, com uma bela vista para uma linda mata, presa no meio das construções…

− Vô! − Exclamou Laura Clara, sentando-se junto ao avô e colocando um caderno e uma caneta sobre uma pequena mesa ao seu lado. − Que é um ser humano?
− É quase Deus.
− Quase Deus? − Espantou-se Laura Clara.
− Por que esse espanto? − Riu o avô. − Você não gostaria de ser quase Deus?
− Acho que… gostaria, sim!
− Pois você é!
− Eu sou?… Como?
− Nunca ouviu dizer que Deus criou os seres humanos, o homem e a mulher, à sua imagem e semelhança?
− Acho que sim.
− Pois, se Deus fez você à imagem e semelhança dele, você é quase Deus.
− Nossa! Será que posso escrever isso no meu trabalho?
− Vai ser um sucesso! Pegue a caneta e tome nota!

Laura Clara escreveu devagar… Depois perguntou:
− Então, todos os seres humanos são quase Deus?
− Pelo menos eram!… Parece que alguns não quiseram assumir essa responsabilidade e preferiram seguir outros caminhos. Azar deles!

Laura Clara não disse nada. Ficou em silêncio, pensando… Depois, perguntou:
− Se eu sou quase Deus, que coisas posso ou devo fazer?
− Quase tudo o que Deus faz!
− Quase tudo? E… qual é o segredo?
− O segredo é uma palavrinha de, apenas, duas letras, chamada fé.
− Fé… − Repetiu Laura Clara, pensativa.
− Fé é força. Aliás, as duas palavras começam pela mesma letra: F!
− FF… Então, ter fé é ter força.
− O seu professor de Ensino Religioso não leu para vocês as palavras de Jesus sobre a fé, quando disse aos seus discípulos que se tivessem fé, do tamanho de uma sementinha, poderiam empurrar uma montanha para bem longe?
− Leu, sim! Disso eu lembro!
− Pois é! Isso significa que a fé é a força que move montanhas!
− Que move montanhas… − Repetiu a menina pensativa.
− Montanhas − esclareceu o avô − que são montanhas e montanhas que são medos, tristezas, desânimos, decepções etc., etc.
− Acho que eu preciso dos dois efes!
− Você já tem os dois efes, pois você, não se esqueça, é quase Deus!
− Então, já não preciso mais de Pilates! − Riu Laura Clara.
− Nem de Pilates nem de Herodes! − Riu, também, o avô.

Laura Clara inclinou-se sobre o caderno e, com uma caneta azul, tomou nota do que o avô lhe tinha explicado. Quando terminou de escrever e de reler o que tinha escrito, o avô lhe perguntou:
− Você já leu ou algum professor comentou que há construções antigas, algumas de milhões de anos, que ninguém consegue explicar como foram feitas? Algumas são muito altas, construídas com pedras enormes, pesadas e muito bem trabalhadas, colocadas, às vezes, em lugares tão elevados que ainda hoje seria muito difícil, mesmo usando os mais poderosos guindastes. Entre essas construções estão, por exemplo, as pirâmides do Egito, que não têm milhões de anos, mas ultrapassam os 5 mil anos.
− Lembro que um professor falou disso. E disse, também, que muitos arqueólogos acreditam que essas construções foram feitas por extraterrestres.
− Isso é, apenas, ficção!
− Então, vô, quem você acha que fez essas construções?
− O ser humano!
− O ser humano?
− Sim! Não esqueça! Se com a fé do tamanho de uma sementinha podemos empurrar uma montanha para bem longe, com essa mesma fé, tão pequenina, também podemos empurrar essas enormes pedronas para o lugar mais alto de qualquer uma dessas construções, como se fossem peninhas de passarinho. Você não acha?
− Acho! − Respondeu Laura Clara, mesmo um pouco insegura…
− E também podemos empurrar para bem longe de nós as outras montanhas, chamadas medos, ansiedades, tristezas, depressões, desânimos, decepções, invejas etc. que tanto nos incomodam… Você não acha? − Repetiu o avô.
− Acho! − Respondeu Laura Clara, de novo…

* * *

− Eu também acho! − Concluiu o professor de Ensino Religioso, falando baixinho, depois de ouvir a leitura que fez Laura Clara do seu trabalho sobre o ser humano.

 

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