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Novas pesquisas reinvestigam os motivos para a mumificação no Egito Antigo: o ensino de História e a pedagogia inaciana

 

O egiptólogo Campbell Price, que fará uma exposição de sua pesquisa em 18 de fevereiro de 2023, no Manchester Museum, em Londres, chamada Golden Mummies of Egypt, afirma que nossa interpretação sobre as causas da mumificação no Egito Antigo está totalmente enganada.

 

A sociedade egípcia tinha grande cuidado com a preservação dos corpos mumificados, certo? Uma das consequências desse empenho na conservação dos corpos após a morte é que eles poderiam se decompor muito lentamente. Os egiptólogos da era vitoriana interpretaram essa prática como o desejo dos egípcios de poderem voltar ao mundo dos vivos com a aparência física que tinham antes. Tal crença deu origem a filmes como A Múmia. Novos estudos, contudo,  contestam a ideia de que os egípcios faziam esses rituais preocupados com a aparência do morto ressuscitado entre os vivos.

 

Campbell Price demonstra que, em uma sociedade como a egípcia antiga, sem espelhos ou fotografias, o culto à aparência e o desejo de permanecer em morte exatamente como se era em vida fazem menos sentido do que o desejo de se perpetuar como ser divino no mundo dos mortos. Assim, para o estudioso, todos os rituais de mumificação eram realizados para orientar o morto no mundo dos mortos. As múmias ressuscitariam entre os mortos, não necessariamente entre os vivos. A tese de que os egípcios desejavam parecer belos entre os vivos após a morte seria, então, uma interpretação incorreta, decorrente da visão de mundo dos próprios egiptólogos britânicos, aponta a pesquisa.

 

Para os egípcios do Egito Antigo, o real e o mágico coexistiam sempre. A preservação dos órgãos após a morte não parece ser motivada por uma preocupação com a aparência dos mortos entre os vivos, mas sim pelo objetivo de levá-los aos deuses do outro mundo. “Longe de garantir a sobrevivência de características individuais, a mumificação visava fazer com que o ocupante de uma tumba correspondesse a uma fórmula divina aceitável”, diz o pesquisador.

 

Essa pesquisa não é apenas importante para a História enquanto ciência humana, mas, também, para nós enquanto seres sociais, pois faz-nos lembrar de que não vemos o mundo como ele é. Normalmente, vemos o mundo como nós somos.

 

Como orienta-nos a pedagogia inaciana, em Pedagogia Inaciana: sua origem espiritual e configuração personalizada, do Padre Luiz Fernando Klein, aprender é desapegar-se de formulações superficiais e inconsistentes mediante a pesquisa profunda. Essa reinterpretação da mumificação no Egito Antigo faz-nos refletir sobre a própria beleza do aprendizado e a complexidade do ato de aprender. Aprender é o exercício inquietante da investigação. Inquietar-se, no sentido científico, é inquietar-se no sentido inaciano, ou seja, testar, questionar, refletir e, sobretudo, não se acomodar. De Campbell Price ao Padre Klein, o ensino de História e a pedagogia inaciana fazem-nos um convite: nem mesmo o que sabemos sobre o passado é impassível de pesquisa e reflexão. Sejamos eternos pesquisadores, busquemos a profundidade, sejamos incansáveis aprendizes.

 

Prof. Filipe Queiroz de Campos

 

Pesquisa disponível em: https://www.theguardian.com/science/2022/nov/12/victorians-wrong-about-why-egyptians-mummified-the-dead-exhibition-reveals. Acesso em: 16/11/2022.