A Proclamação da República no Brasil

 

No ano de 1889, no dia 15 de novembro, aconteceu no Brasil um movimento político que culminou na derrubada da monarquia e, consequentemente, na Proclamação da República. Mais do que apenas um processo transitório, esse episódio mudou os rumos do Brasil, principalmente na política. Dom Pedro II deixou de ser imperador, e foi montado um governo de transição com características republicanas, embora conduzido por militares. O marechal Deodoro da Fonseca foi posto como presidente até que eleições fossem organizadas.

 

O Brasil no século XIX vinha enfrentando sérios problemas políticos e econômicos que resultaram no enfraquecimento da Monarquia, levando-a a uma crise. Os elementos essenciais que possibilitaram a adoção do modelo de governo republicano no Brasil foram: a crise no sistema escravista, destacando os movimentos abolicionistas e a pressão estrangeira que culminaram na Lei Áurea, a crise de produção agrícola, devido ao modelo latifundiário, a influência da maçonaria e os conflitos com a Igreja Católica principalmente no fato do Beneplácito e o militarismo que se consolidou após a Guerra do Paraguai, passando a ter um Exército organizado que requeria direitos e soldos.

 

O desgaste do Império brasileiro era visível. Nenhum dos setores políticos da sociedade apoiava mais o imperador Dom Pedro II. Com a fundação do Partido Republicano, em 1870, a luta republicana ganhou mais força, juntando-se à luta abolicionista. A união desses movimentos acabou sendo o maior fator para o desgaste do governo imperial.

 

Embora mais aberta politicamente do que o Império, a República no Brasil foi organizada por pensadores e intelectuais ligados às classes mais ricas, tanto urbanas quanto rurais e, portanto, interessadas em manter suas vantagens e regalias. Desse modo, a República instaurada no Brasil não era democrática porque, mais uma vez, o povo observou de longe os acontecimentos e não teve o direito de participar diretamente do processo.

 

Por Adriana Malaquias

Professora

Tiradentes: mito ou herói?

 

 

O dia 21 de abril é feriado no Brasil porque se comemora o Dia de Tiradentes. A data remete ao dia da morte do mineiro Joaquim José da Silva Xavier, o que ocorreu em 21 de abril de 1792. Joaquim José foi um dos líderes da Conjuração Mineira. Era conhecido pelo apelido “Tiradentes” e é considerado por muitos como um “herói nacional”. Mas de onde vem essa ideia do heroísmo de Tiradentes?

 

De todos os participantes da Conjuração Mineira, Tiradentes foi o único executado. Era o participante mais atuante e por ser militar, ou seja, devia obediência à Coroa, a penalidade foi mais cruel. Depois de três anos preso, o alferes, no dia 21 de abril de 1792, foi enforcado, decapitado e esquartejado. Para que os súditos da Coroa nunca se esquecessem da lição, a cabeça de Tiradentes foi encravada numa estaca e exposta em praça pública em Vila Rica, e seus membros, espalhados pela estrada que levava ao Rio de Janeiro.

 

Com o tempo, sobretudo após a Independência, sua imagem passou a ser usada como símbolo de luta pela liberdade no Brasil, tanto na fase imperial quanto na fase republicana. Na fase republicana, essa construção simbólica foi necessária para dar credibilidade à República, já que todo processo de implantação da mesma foi desprovido de qualquer apoio popular, abrindo aí uma lacuna. Para o historiador José Murilo de Carvalho, autor de A Formação das Almas (Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 1ª edição, 1990), “para consolidar-se como governo, a República precisava eliminar as arestas, conciliar-se com o passado monarquista, incorporar distintas vertentes do republicanismo. Tiradentes não deveria ser visto como herói republicano radical, mas sim como herói cívico religioso, como mártir, integrador, portador da imagem do povo inteiro”, alguém que fosse um líder, mas de características também submissas, como exemplo ao povo.

 

Sob esse aspecto, Tiradentes pode ser visto como uma das mais importantes figuras que tiveram sua representação manipulada a fim de fortalecer a nossa República. Sendo representado sob a figura de um mártir quase messiânico, Tiradentes é colocado como o formador de um ideal patriota em que a nação se colocava antes da própria vida.

 

Portanto, nos últimos anos, essa ideia de mito vem sendo desconstruída por alguns historiadores. Há um retorno na documentação, valorizando a busca de uma nova leitura, dando ênfase aos aspectos não tratados em fontes anteriores e essas fontes têm muito a nos revelar.

 

Existe um Tiradentes sob várias faces: o mártir símbolo dos republicanos, o sacrificado como Jesus Cristo, o bode expiatório, o líder da Conjuração Mineira, o ignorante. Qual dessas seria a face verdadeira? Especulações à parte, o que importa na história da Inconfidência Mineira é que a imagem de Tiradentes enquanto herói resiste ao tempo. Mas, como a História do Brasil continua sendo escrita, qual a história que será contada, no futuro, sobre o que está ocorrendo no presente?

 

Qual é o verdadeiro Tiradentes? O mártir, símbolo da República? O líder da Conjuração Mineira? O ignorante? Ou aquele que serviu de exemplo para seus companheiros? O que importa na história da Conjuração Mineira é que a imagem de Tiradentes enquanto herói resiste ao tempo. Mas, como a História do Brasil continua sendo escrita, muito ainda há para ser abordado e discutido, e a historiografia brasileira vem se enriquecendo a cada dia com novos trabalhos e novas pesquisas, mas Tiradentes ficou eternizado na história.

 

Por Adriana Malaquias e Marcela Torres

Professoras