O professor como instrumento do Ruah

Chovia muito. A enorme sombrinha cor de rosa da minha mãe me envergonhava frente aos meus colegas… todos muito mais altos que eu. O uniforme era grande demais. O mundo era grande demais. Eu me perguntava: por que eu tenho que ir à escola?

 

Eu tinha dezoito anos… tantas dúvidas! Uma delas se destacava: como um nerd, baixinho, de óculos, tímido e desajeitado poderia fazer qualquer diferença em um mundo tão grande e tão ameaçador?

 

O medo e o desânimo tomavam conta de mim. Um velhinho entrou em sala com seus óculos na ponta do nariz, barba branca, camisa antiga de botão para dentro das calças. Mal sabia eu que a aula daquele velhinho despertaria, em mim, uma chama que nunca mais vacilou. A aula daquele velhinho queimou em mim uma vontade infinita de saborear o conhecimento e fazer do conhecimento uma ferramenta para a felicidade dos outros.

Ele começou a aula assim: “Vocês não são dispensáveis. Cada ser humano é irrepetível. As regras do jogo lá fora vão tentar te convencer de que você é só mais um. Cada um de vocês são representantes da esperança desse mundo ser um lugar melhor. Isso não é uma mensagem geral. É um chamado no particular”. A aula de inspiração e coragem teve fim às oito horas, mas nunca terminou no meu coração. Para o resto da minha vida, a vontade de valorizar a coragem, a ousadia intelectual e a diversidade de pensamentos passou a arder forte no meu coração. Aquele professor exerceu sua capacidade de despertar, em mim, um ânimo absurdo pela vida.

 

No latim, a palavra animus está ligada ao conceito de anima, ou seja, a força vital que dá vida a todo ser. Em português, anima seria o próprio sopro de vida, aquilo que nos oferece propósito. Para mim, o professor tem uma missão transcendental: inspirar um ardente amor pela vida. O professor que se aventura a inspirar seus estudantes a serem alegres, fortes e felizes é um representante do Ruah, em hebraico, o Espírito Santo de Deus; é um instrumento do animus divino. Sendo assim, o professor faz, no mínimo, toda a diferença.

 

Para mim, aquela aula mudou minha vida e, hoje, entendo: o professor pode ser um representante do sopro divino. O professor provoca o animus na vida de seus estudantes. Uma aula não é apenas mais um momento. Ela pode ser o grande momento de que alguém precisava. A aula pode ser um instante que, paradoxalmente, dura para sempre.

 

O professor animado pelo amor à vida é condutor de uma eletricidade diferente. Ele pode conduzir o Espírito de Deus a todos que o escuta, eletrizando a alma, espantando todo desânimo e medo, por meio de um sorriso estampado no rosto, por meio de uma alegria incontida, de um desejo ardente pelo conhecimento ou de uma lição inspiradora. Cada um do seu jeito, cada professor pode interromper a inércia da desesperança ao provocar um inquieto amor pelo sentido da vida.

 

Um professor desconhece o alcance das suas palavras. Elas podem ecoar para sempre no coração de alguém. Por isso, se você é professor ou conhece um professor, valorize a oportunidade que uma aula representa. Quem sabe, talvez, quem está te escutando pode ser despertado para um novo mundo de coragem e ânimo? Quem sabe, as palavras ditas em uma sala de aula podem ressoar na mente de um próximo professor, na de um próximo médico, na de um próximo presidente… o professor mexe com a gente. Ele tem um amor diferente.

 

Por Prof. Filipe Queiroz de Campos

Assessor de Área para as Ciências Humanas

Dia Nacional de Combate ao Bullying

Criado pela Lei 13.277 de 2016, 7 de abril é o Dia Nacional de Combate ao Bullying. Essa data marca o massacre de Realengo, bairro da cidade do Rio de Janeiro, onde um rapaz de 23 anos de idade que, sofreu Bullying na infância, entrou na escola e matou doze crianças, sendo dez meninas e dois meninos. Depois que ele foi atingido por um vigilante, cometeu suicídio, lamentavelmente. Contudo, essa situação poderia ser evitada com conhecimento a respeito do tema e, é este o intuito desse artigo.

 

O Bullying é um fenômeno social, manifestado de forma contrária às normas e valores coerentes à sociedade, expresso de maneira sutil e com características próprias, por tratar-se de um tipo de violência escolar.

Esse fenômeno não acontece a partir de um motivo pré-determinado e não se dá como conflitos normais ou brigas entre discentes e, sim, atos de intimidação repetida contra indivíduos vulneráveis e incapazes de defesa e a existência de espectadores que, por medo de se tornarem vítimas futuras ou por prazer em ver a dor alheia, não dão assistência aos padecentes desse mal.

Nesse contexto, a questão é muito mais complexa do que brincadeiras diárias entre discentes, pois a problemática enfrentada pela comunidade escolar emerge quando, involuntariamente, a vítima toma para si as agressões impostas pelo Bullying, permitindo-se sofrer em silêncio; essa dor é devastadora, podendo ser percebida pelo declínio em seu rendimento escolar, isolamento e ausência às aulas, explicada pelo fato de o seu agressor estudar, na maioria das vezes, na mesma sala.

 

Segundo a literatura acadêmica, existem relatos de vítimas que passaram a acreditar serem merecedoras de tamanha covardia diária, tendo seus sonhos e planos futuros ceifados, pois abandonaram a escola, contribuindo para o aumento das estatísticas de evasão escolar. Ao mesmo tempo em que a vítima não encontra ajuda necessária, capaz de lhe dar suporte, o intimidador também não encontra quem o faça cessar e/ou o conscientize e o sensibilize para a boa convivência em sociedade. É preciso interpretar o silêncio das vítimas, pois, sem o apoio de que elas precisam, jamais irão suportar as situações impostas pelo Bullying, pela própria vulnerabilidade frente ao fenômeno e, em decorrência disso, toda a comunidade escolar sofrerá por consequência.

Abordar o tema Bullying no âmbito escolar é, por consequência, almejar a prevenção ao suicídio, um problema de saúde pública e, embora a taxa de vítimas supere a da AIDS e de alguns casos de câncer, ainda assim, as pessoas fogem do assunto, justamente por falta de conhecimento, negligência ou medo. (OMC apud Associação Brasileira de Psiquiatria, 2014)

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, nove, em cada dez, casos de suicídio poderiam ser prevenidos e, vários são os fatores que podem levar crianças, adolescentes e adultos a cometerem esse ato extremo e, dentre esses, o Bullying. (OMC apud Associação Brasileira de Psiquiatria, 2014)

 

Assim, o espaço escolar ideal para as vítimas é aquele que proporciona a elas, um ambiente que as proteja de humilhações e intimidações e estimule a capacidade de defesa frente ao Bullying. A solução está na união de esforços entre poder público e sociedade, assumindo a existência do Bullying, em todos os lugares frequentáveis e, dessa forma, ter a possibilidade de agir em favor dos atores sociais presentes no espaço escolar, para que haja uma mudança real de comportamento e por consequência, a minimização, a prevenção e o combate eficaz ao Bullying.

 

Por fim, é urgente que tal temática seja abordada em sala de aula, pois segundo a minha pesquisa, três em cada dez alunos percebem a presença do Bullying no espaço escolar e, conscientizá-los é o papel da escola, pois acredito que, o espaço escolar deve oferecer meios de conscientização sobre o respeito e as regras de conduta frente ao coletivo, neutralizando possíveis ações transgressivas e, ao mesmo tempo, cumprindo o que está previsto na Lei 13.185 – Programa de Combate à Violência Sistemática, vigente em todo o território nacional.

 

Por: Profª Ms. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri

Palestrante e oferece treinamento sobre os temas: Bullying e Mobbing

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Referências Bibliográficas

BARBIERI, J. M. O., ZANOELLO, T. B., IMAIZUMI, C. E. O. Bullying nos ambientes físico e virtual e suas implicações na seara do Direito, 2020. https://www.migalhas.com.br/depeso/335875/o-bullying-nos-ambientes-fisico-e-virtual-e-suas-implicacoes-na-seara-do-direito Acesso em: 25.03.2021

BARBIERI, J. M. O. Quando um projeto quebra o silêncio: ed. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, 2016.

BARBIERI, J. M. O. Desvendando e Prevenindo Bullying: a aplicabilidade da Lei 13.185, Araraquara: ed. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, 2016.

BARBIERI, J. M. O. Bullying: conhecimento é a melhor forma de prevenir, Araraquara: ed. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, 2016.

BARBIERI, J. M. O. Desvendando e prevenindo Bullying, Anais da VIII Amostra de Pesquisas em Educação / VIII Amostra de Pesquisas em Educação; Araraquara, p. 103, 2014. BARBIERI, J. M. O. Bullying: conhecimento é a melhor forma de prevenir, Araraquara: Suprema, 2013.

BRASIL. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13185.htm Acesso em: 02.12.2015.

OLIVEIRA, J. M. Indícios de Bullying no Ensino Médio de Araraquara/SP. Araraquara, 2007. OMC apud Associação Brasileira de Psiquiatria, cartilha SUICÍDIO: INFORMANDO PARA PREVENIR, 2014. http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14 Acesso em: 27.11.2017.

A essencialidade da Educação

Pensar a Educação é pensar sobre a vida humana. A Educação possibilita a aprendizagem, e esta, por sua vez, traz liberdade, abre horizontes, motiva o desenvolvimento do ser humano. O conhecimento, ato de compreender por meio da razão e/ou da experiência, torna-se, portanto, uma ferramenta eficaz na construção de uma sociedade mais justa e humana.

 

Mas há liberdade sem sacrifícios? O caminho para a construção do conhecimento nos impõe desafios consideráveis, uma vez que apresenta como pré-requisito a disponibilidade e a motivação de quem o percorre.

 

O olhar para o papel da escola e sua relevância na vida de todas as pessoas é indiscutível, a educação escolar, essência desta instituição, torna-se responsável pela constituição do sujeito. E é nesta premissa que a escola trilha seu fazer pedagógico. Tendo como alguns de seus objetivos proporcionar a aprendizagem científica, a experiência, as descobertas e o repensar sobre algo, a escola assume o compromisso de disponibilizar arcabouços para que todos possam apreender de acordo com suas potencialidades. Numa atitude de respeito, compromisso e responsabilidade com a educação, a escola torna-se o “lugar comum”, onde a busca pela informação precisa ser constantemente incentivada, através de insumos que propiciem a autonomia, o engajamento e o desenvolvimento do estudante.

 

A Educação nos traz a possibilidade de pensarmos o mundo e as relações de maneiras diferentes, baseando-nos em valores, crenças e saberes específicos. Neste sentido, a escola torna-se um excelente lugar, de fato, para a concretude desta possibilidade. Pautada por um currículo integrador, sistêmico e bem articulado com a realidade, a instituição escolar busca a garantia de uma educação integral adequada e de qualidade para todos os estudantes.

 

Proporcionar condições para o diálogo, para a reflexão, para a interação e para a construção do conhecimento é um grande desafio da escola como instituição que favorece a aprendizagem através das relações com o meio, consigo e com o outro. A percepção de que todos são diferentes, únicos, mas igualmente valiosos, contribui para o exercício do respeito ao próximo e para o entendimento de que há, na diversidade, um potencial sem limites para o desenvolvimento da sociedade. Neste sentido, destaco a relevância de uma educação escolar na integralidade e faço uma analogia com um quebra-cabeças, que apresenta todas as suas peças diferentes e só pode ser totalmente completado e contemplado quando estas partes estão em perfeita harmonia.

 

Por Prof.ª  Danielle França Simas

Orientadora Pedagógica