Tiradentes: mito ou herói?

 

 

O dia 21 de abril é feriado no Brasil porque se comemora o Dia de Tiradentes. A data remete ao dia da morte do mineiro Joaquim José da Silva Xavier, o que ocorreu em 21 de abril de 1792. Joaquim José foi um dos líderes da Conjuração Mineira. Era conhecido pelo apelido “Tiradentes” e é considerado por muitos como um “herói nacional”. Mas de onde vem essa ideia do heroísmo de Tiradentes?

 

De todos os participantes da Conjuração Mineira, Tiradentes foi o único executado. Era o participante mais atuante e por ser militar, ou seja, devia obediência à Coroa, a penalidade foi mais cruel. Depois de três anos preso, o alferes, no dia 21 de abril de 1792, foi enforcado, decapitado e esquartejado. Para que os súditos da Coroa nunca se esquecessem da lição, a cabeça de Tiradentes foi encravada numa estaca e exposta em praça pública em Vila Rica, e seus membros, espalhados pela estrada que levava ao Rio de Janeiro.

 

Com o tempo, sobretudo após a Independência, sua imagem passou a ser usada como símbolo de luta pela liberdade no Brasil, tanto na fase imperial quanto na fase republicana. Na fase republicana, essa construção simbólica foi necessária para dar credibilidade à República, já que todo processo de implantação da mesma foi desprovido de qualquer apoio popular, abrindo aí uma lacuna. Para o historiador José Murilo de Carvalho, autor de A Formação das Almas (Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 1ª edição, 1990), “para consolidar-se como governo, a República precisava eliminar as arestas, conciliar-se com o passado monarquista, incorporar distintas vertentes do republicanismo. Tiradentes não deveria ser visto como herói republicano radical, mas sim como herói cívico religioso, como mártir, integrador, portador da imagem do povo inteiro”, alguém que fosse um líder, mas de características também submissas, como exemplo ao povo.

 

Sob esse aspecto, Tiradentes pode ser visto como uma das mais importantes figuras que tiveram sua representação manipulada a fim de fortalecer a nossa República. Sendo representado sob a figura de um mártir quase messiânico, Tiradentes é colocado como o formador de um ideal patriota em que a nação se colocava antes da própria vida.

 

Portanto, nos últimos anos, essa ideia de mito vem sendo desconstruída por alguns historiadores. Há um retorno na documentação, valorizando a busca de uma nova leitura, dando ênfase aos aspectos não tratados em fontes anteriores e essas fontes têm muito a nos revelar.

 

Existe um Tiradentes sob várias faces: o mártir símbolo dos republicanos, o sacrificado como Jesus Cristo, o bode expiatório, o líder da Conjuração Mineira, o ignorante. Qual dessas seria a face verdadeira? Especulações à parte, o que importa na história da Inconfidência Mineira é que a imagem de Tiradentes enquanto herói resiste ao tempo. Mas, como a História do Brasil continua sendo escrita, qual a história que será contada, no futuro, sobre o que está ocorrendo no presente?

 

Qual é o verdadeiro Tiradentes? O mártir, símbolo da República? O líder da Conjuração Mineira? O ignorante? Ou aquele que serviu de exemplo para seus companheiros? O que importa na história da Conjuração Mineira é que a imagem de Tiradentes enquanto herói resiste ao tempo. Mas, como a História do Brasil continua sendo escrita, muito ainda há para ser abordado e discutido, e a historiografia brasileira vem se enriquecendo a cada dia com novos trabalhos e novas pesquisas, mas Tiradentes ficou eternizado na história.

 

Por Adriana Malaquias e Marcela Torres

Professoras

Inscrições abertas para o intercâmbio digital Fordham

Por meio de uma colaboração entre a Fordham University – Institute of American Language And Culture (IALC) e a Federação Latino-Americana de Colégios da Companhia de Jesus (FLACSI), o Colégio dos Jesuítas está ofertando aos seus estudantes que tenham 15 anos ou mais o programa de treinamento intensivo “Youth Summit 2021: Leadership and Global Citizenship”.

 

O curso, que acontecerá de 7 de junho a 14 de julho, tem o objetivo de proporcionar uma experiência on-line global, aprofundando conhecimento de cidadania global, desenvolvimento sustentável e justiça social, trabalhando liderança e habilidades em inglês. As inscrições estarão abertas até o dia 15 de maio, têm um custo de US$ 700 e devem ser feitas por meio do site (Clique aqui para acessar)

 

O programa é organizado em três módulos (Culture, Creativity & Leadership for Justice: Common Concerns, Global Citizenship and the Care of Creation, Experiential Learning & Applied Research) e termina com uma conferência virtual sobre redes globais e interculturalidade. As aulas serão ministradas de forma síncrona (na segunda ou terça-feira, das 16h às 19h – horário de Nova Iorque) e assíncrona. Além disso, aqueles que concluírem o curso com sucesso receberão um certificado de conclusão (carga horária de 30 horas), emitido pela universidade.

 

Confira alguns requisitos para participação: acesso à Internet, conta de zoom, proficiência em inglês intermediária ou superior, possuir 15 anos ou mais.

 


Informações ou dúvidas, entre em contato por meio do e-mail institute.ialc@fordham.edu ou pelo WhatsApp para +1(631) 796 0735.

 

Cuidado com o próximo: Colégio dos Jesuítas entrega cestas básicas para a campanha “Juiz de Fora Solidária“

 

O Colégio dos Jesuítas realizou a entrega, nesta segunda-feira (19), de cestas básicas para a campanha “Juiz de Fora Solidária”, promovida pela Prefeitura, e na qual a instituição é um dos pontos de arrecadação. O número de doações (65) foi escolhido em referência ao aniversário de 65 anos do Colégio. Desse modo, a iniciativa teve o objetivo de contribuir com 65 famílias do município.

 

Durante a entrega dos donativos, o Diretor Acadêmico do Colégio, Pe. José Robson Silva Sousa, SJ, lembrou que o cuidado com o próximo é uma preocupação permanente da Companhia de Jesus, acentuada nesse tempo de pandemia.

 

“Vir ao encontro daquilo que a Prefeitura mobiliza, nos ajuda muito mais no caráter efetivo da solidariedade, uma vez que soma aquilo que a gente faz, na mobilização com os nossos estudantes e as suas famílias, com aquilo que a Prefeitura e seus parceiros fazem bem, que é a mobilização da logística de distribuição e de atendimento às pessoas mais vulneráveis”, afirmou.

 

Na avaliação do jesuíta, o sentimento para as famílias que precisam de ajuda é de prece atendida. E para a instituição, de missão cumprida. “No sentido de estarmos aqui para servir, ajudar e cuidar daqueles mais vulneráveis. É de saber que a gente está fazendo aquilo que Cristo nos seus Evangelhos pede: olhe os pequenos, mais frágeis, os pobres, os marginalizados. Missão cumprida naquilo que é a alteridade, a solidariedade”, partilhou.

 

Segundo o Secretário de Direitos Humanos de Juiz de Fora, Biel Rocha, várias instituições da cidade uniram-se em torno da causa. “E o Colégio dos Jesuítas foi uma das primeiras instituições de ensino que se mobilizou junto à gente. Isso nos deixou com uma satisfação muito grande de ver o empenho, não só do corpo técnico, dos professores, mas a gente tem visto nas redes, comentários dos pais, dos alunos, nesse empenho de somar nesse momento muito importante de solidariedade a quem tem fome”, relatou.

 

Ponto de arrecadação

 

Até 30 de abril, a portaria da instituição (Avenida Presidente Itamar Franco, 1.600) será um dos pontos de arrecadação de alimentos não perecíveis e de cestas básicas. Os doadores poderão entregar os donativos de segunda a sexta-feira (das 7h às 18h), e aos sábados (das 7h às 13h), a pé ou de automóvel.

 

Literatura e contação de história: tecendo perspectivas para a formação de um leitor

“Que meu conto seja belo e que se desenrole como um longo fio…”

 

Deixe-me falar de um tempo, um espaço, uma voz e um ouvinte, sim, porque, para se contar uma história, não se necessita de mais que isso, mas é preciso cuidado… o cuidar do outro. Quando alguém se propõe a contar uma história, espera que o outro a colha e ao mesmo tempo acolhe o seu ouvinte num espaço outro, o espaço do afeto. O tempo então se expande para outra dimensão, não é o imediato do agora, é o tempo da criação, aquele tão essencial para a cura de nossos medos, angústias, certezas e incertezas, desejos e entregas … das vozes que trazemos dentro de nós.

 

Por conseguinte, contar e ouvir histórias é um ato de afeto, pois tanto quem conta, quanto quem ouve se deixa afetar pela alteridade e cria um vínculo do que há de mais humano entre nós, o reconhecimento da casa comum que é a vida, do que nos move para uma finalidade maior que nosso amor-próprio, o amor fraterno. Por isso, Jesus fez das Parábolas um meio para nos afetar, nos levar para o outro mundo, aquele que nos permitiria vencer o nosso ego, para sermos mais e melhor para outro, o próximo.

 

Bem, caro(a) leitor(a), você deve ter notado que não especifiquei nenhuma faixa etária para o(a) ouvinte, nem para o(a) contador(a) de histórias. Se não o fiz, é porque a minha experiência me mostrou que não há. Normalmente se espera que o(a) contador(a) de histórias seja o adulto e a plateia seja a criança, mas, ao longo da minha vida profissional e pessoal, já encontrei grandes contadores de histórias entre as crianças e vários adultos com dificuldades para se disporem a serem ouvintes, portanto, a meu ver, não é uma questão de idade, é uma questão de disponibilidade para se entregar a essa experiência tão humana e atávica.

 

E o que a Literatura tem a ver com isso? Tudo. A Literatura é antes de tudo uma experiência estética que nos permite ouvir as vozes dos outros com os olhos, como brilhantemente escreveu Eduardo Galeano em seu conto “A função do Leitor/1”, e que nos leva a vivenciar outros lugares de ser e de estar, ampliando a nossa visão do mundo, das pessoas e de nós mesmos. Por isso, ela caminha de mãos dadas com a contação de história, já que uma alimenta a outra. Pois a oralidade precede a escrita, basta lembrarmos dos Contos de Fadas, que foram recolhidos das histórias contadas oralmente pelo povo. E o bom/a boa escritor(a) é, antes de tudo, um(a) excelente ouvinte das vozes que se perpetuam dentro de si e dentro do seu próximo.

 

 

Outra vez aqui não farei a distinção da faixa etária para a obra literária, pois, a meu ver, o texto literário, quando bem escrito, transcende a isso. Porque há obras extremamente maduras e sofisticadas enquanto provocação estética e de reflexão na Literatura dita Infantil, como há livros extremamente desprovidos disso na Literatura voltada para adultos.

 

E como separar o joio do trigo? Não há uma fórmula, tudo depende da formação do(da) leitor(a), ou seja, do quanto foi a ele/ela oferecido(a) de experiências para que ouvisse as vozes do seu próximo e fizesse uso da sua voz, para contar as suas histórias e as dos outros, quer seja oralmente ou através da escrita, num tempo/espaço da criação, no encontro e na entrega dos afetos que nos aproximam como irmãos. E se esse processo se inicia na infância, ele não se encerra nela, ou em nenhuma outra faixa etária, outrossim encaminha-se ao longo da vida de cada um de nós, ou seja, somos e seremos sempre, com maior ou menor disponibilidade, leitores em formação.

 

Portanto, este texto não se propôs a qualificar e a especificar as ferramentas pedagógicas para a formação do(da) leitor(a), deixo isso para um outro momento, e peço antecipadamente desculpas se isso lhe possa ter causado, amigo(a) leitor(a), alguma frustração, mas o que eu queria mesmo é lhe comover, lhe provocar, para que, quem sabe, você se sentisse disponível a ouvir ou contar uma história… seja ela oral ou escrita. Assim, juntos, num espaço de afeto, desenrolaríamos os fios de nossas vidas e teceríamos um encontro de amor fraterno. Por isso… “essa história entrou por uma porta e saiu pela outra, quem quiser que conte outra”.

 

Por Magali Machado Silva Jobim

Professora

 

Referências bibliográficas

 

  • ALBERGARIA, Lino. Do folhetim à literatura infantil: leitor, memória e identidade. Belo
    Horizonte, MG: Ed. Lê,1996.

 

  • BUSATO, Cléo. A arte de contar histórias no século XXI. Tradição e Ciberespaço. Petrópolis, RJ:
    Vozes, 2006.

 

  • COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática – 1 ed. São Paulo:
    Moderna, 2000.

 

  • MARIA, Luzia de. Amor Literário: dez instigantes roteiros para você viajar pela cultura letrada.
    Rio de Janeiro: Ler &Cultivar editora, 2016.

 

  • MATOS, Gislayne Avelar. A palavra do contador de histórias: sua dimensão educativa na
    contemporaneidade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

 

  • MATOS, Gislayne Avelar, SORSY, Ino. O ofício do contador de histórias: perguntas e respostas, exercícios práticos e um repertório para encantar. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Sustentabilidade: Turmas do 5º ano produzem cartazes contra o uso de agrotóxicos

Comprometidos com a sustentabilidade do nosso planeta, as turmas do 5º ano/Fundamental do Colégio dos Jesuítas produziram cartazes como campanha contra o uso de agrotóxicos.

 

A atividade foi proposta aos estudantes a partir do conteúdo sobre poluição do meio ambiente. Na ocasião, as crianças compreenderam que os agrotóxicos, utilizados nas atividades agrícolas, são um dos responsáveis pela degradação do solo nas áreas rurais e que consumir produtos que contenham esses insumos prejudicam a nossa saúde e a de outros seres vivos.

 

Confira produções partilhadas pelos estudantes

 

Turmas do 1º e 2º anos/Fundamental partilham fotos da Celebração de Páscoa

Durante o Momento de Formação Inaciana da Páscoa, realizada pela equipe da Formação Cristã com as turmas do 1º e 2º anos/Fundamental do Colégio dos Jesuítas, foi apresentado aos estudantes  histórias relacionadas ao tema, que proporcionaram uma troca rica de experiências e aprendizagens.

 

Recordando essa Formação, os pequenos foram convidados a partilhar como celebraram essa data e vivenciaram o verdadeiro sentido da Páscoa. Desse modo, as crianças dialogaram com suas famílias a respeito do tema e pediram ajuda para escolher e enviar ao Colégio a melhor foto que representasse esse momento de união, partilha, amizade, ajuda, fé e esperança em Cristo. Outra opção apresentada, é que eles tirassem a foto do cartão produzido durante a atividade de formação, reconhecendo o significado da Páscoa e os seus respectivos símbolos.

 

Confira as fotos partilhadas pelas famílias

 

Dia Nacional de Luta pela Educação Inclusiva

No Dia Nacional de Luta pela Educação Inclusiva, 14 de abril, trago a entrevista, ou melhor, o bate-papo, com a Mariana Rosa, mulher mineira, potente, com uma fala própria e assertiva, pois a propriedade do assunto vem da vivência. Mariana é uma mulher com deficiência visual, educadora, jornalista e integrante do Coletivo Helen Keller, é uma referência como ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, além de ser a mãe da Alice, que teve paralisia cerebral. E, como ela mesmo diz, “não necessariamente nessa ordem.”

 

Mari é uma pessoa que nos abraça, abraça as causas, nos acolhe e é sempre muito gentil, com sua voz doce, que ecoa pelos caminhos da inclusão (não só escolar, mas em todos os caminhos), sempre agrega muito, mas não se engane com a doçura, pois essa mulher tem uma força e uma energia admiráveis! Conviver com ela é um presente que a inclusão me proporcionou, por isso, venho, prazerosamente, partilhar as palavras que escuto, não só nesse bate-papo, mas diariamente, e que se tornaram lema na Educação Inclusiva, Mudar a escola, não mudar de escola, trazendo a possibilidade de serem construídos ambientes escolares mais inclusivos, que reconheçam as diferenças e acolham a todas e todos.

 

Melissa – Existem alguns dispositivos legais que garantem a entrada e permanência do estudante com deficiência na escola regular de ensino, como a Constituição Federal de 1988 (Art. 206), a Convenção a respeito dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Art. 24) e a Lei Brasileira de Inclusão (Art. 27). O ano passado foi bem controverso para a educação, muitas foram as discordâncias em função de questões que trouxeram a segregação escolar. Como você vê o ano de 2020 para a Educação Inclusiva?

 

Mariana – O ano era 2020 e ainda havia quem pensasse que inclusão era a ação tomada por um grupo pré-estabelecido em relação às pessoas com deficiência. Ainda há quem acredite que é possível categorizar e classificar os humanos que somos a partir de determinados critérios. Ainda há quem defenda que educação inclusiva é aquela concebida estritamente para incorporar os estudantes com deficiência às escolas regulares. São esses pressupostos, somados a interesses econômicos, que desembocaram na segregação escolar da pessoa com deficiência.

No lugar das instituições especializadas, as quais não podemos chamar de escolas, vieram as reivindicações em torno dos direitos humanos e da afirmação da diferença que nos compõe – a todos e a cada um. Direitos ainda frágeis para as pessoas com deficiência, posto que temos consolidada experiência em segregar e excluir, mas somos iniciantes nos ensaios de convivência com equidade e alteridade.

Nesse contexto, algumas perguntas se fazem necessárias: quais as implicações políticas do que se entende por diversidade, diferença e identidade? Quem define o que é o corpo certo, e o que é o desvio? Quem arbitra sobre os critérios que fazem da escola um lugar para uns, e não para outros? Qual é a norma que organiza o currículo escolar? Quais as suas implicações? Qual é, afinal, o mandato da Educação? Debruçarmo-nos sobre essas perguntas é nosso dever de casa, do contrário, abraçaremos o retrocesso pela conveniente e nefasta ausência de crítica.

Imagem: Reprodução instagram Mariana Rosa

 

Melissa – A diversidade é importante para a construção da identidade de toda sociedade, isso é um fato. Isso ajuda no desenvolvimento do respeito, que é um direito. Ele é fundamental para preservar a identidade, os valores e crenças dos indivíduos, e essencial para garantir a dignidade das crianças e adolescentes, na construção de um mundo mais justo e inclusivo. Como você considera o respeito à diversidade no mundo atual?

 

Mariana – Os conceitos de diversidade, diferença e identidade são resultados das disputas de poder. Dito de outro modo, essas categorias não são dados da natureza, não são essências que aguardam nossa descoberta, ação benevolente ou tolerância. Ao contrário, são social e culturalmente produzidas a partir de um campo de forças de interpretações e interesses. “A identidade e a diferença não são simplesmente definidas; elas são impostas. As classes nas quais o mundo social é dividido não são simples agrupamentos simétricos. Dividir e classificar significa, neste caso, também hierarquizar”, ensina-nos Tomaz Tadeu da Silva. Assim, quando um governo julga deter o privilégio de classificar estudantes a partir do critério da deficiência e sugerir encaminhamentos a locais segregados em razão disso, está exercendo o poder de atribuir diferentes valores às pessoas, bem como de levar adiante instrumentos de dominação e controle.

Os retrocessos permitem que uma determinada identidade seja fixada como norma – o normal – e aquelas que dela se distanciam são compreendidas como o desvio – o especial. A “bola da vez” é a deficiência, mas a arbitrariedade deste critério de classificação de humanos nos indica que o mesmo poderia se dar a partir de qualquer outro critério: a cor da pele, o gênero, a religião, a classe social… Todas elas, estratégias de segregação, que também já conhecemos no passado. O que nos garante que não serão retomadas como se novas fossem? Mais do que isso, como se fossem razoáveis?

 

Melissa – Muitas são as ideias, os conceitos a respeito de uma efetiva Educação Inclusiva. Como você entende que seria um sistema educacional brasileiro realmente inclusivo?

 

Mariana – É preciso questionar a eleição de uma identidade como a norma a partir da qual as demais são hierarquizadas e avaliadas. Habituamo-nos a considerar normal que as pessoas se expressem oralmente, por exemplo, de tal modo que aquelas que se comunicam por outras vias são consideradas desvios, excepcionalidades. Mais do que isso, há uma compreensão hegemônica de que falar é o melhor modo de comunicação, e a ele atribuímos uma série de características positivas, enquanto a comunicação que se dá por outras possibilidades é percebida como ausência da fala, como negativa, como empecilho. Falar é considerado, portanto, normal, natural, desejável, e isso tem tamanha força que a oralidade não é vista como uma das formas de comunicação, mas simplesmente como A comunicação.

Por isso, levar adiante a educação inclusiva significa conceber um sistema educacional que não classifica, nem hierarquiza pessoas, pois reconhece a diferença como a norma a partir da qual tudo se organiza. Ou seja, investe em uma escola não para um determinado grupo de alunos, mas para todos eles, cada um em suas particularidades. Pressupõe compreender a deficiência como um modo de vida tão singular quanto qualquer outro e, por isso, assegura acessibilidade e tecnologias assistivas como direitos inegociáveis. Requer abandonar a ideia do aluno universal, estanque repetidor do que o professor enuncia, para abraçar o aluno real, único e em permanente mudança. Demanda que professor e aluno colaborem um com o outro para anunciar novos e múltiplos jeitos de ensinar e de aprender, em comunidade. Impõe a necessidade de acolher os diversos tempos e modos de aprendizagem, o que solicita um outro desenho para a sala de aula, que não esse que se aproxima de uma linha de produção fabril. Exige que os professores sejam reconhecidos e valorizados, que a gestão democrática seja premissa de trabalho da escola. Levar adiante a educação inclusiva requer, portanto, mudar a escola, e não mudar de escola, e assumir tal processo como um modo de nos comprometermos com as bases de alteridade e justiça para criar o mundo em que queremos viver. Um mundo em que já não cabem as relações de poder de uns sobre os outros, mas o poder que emana da paridade, das relações de uns com os outros.

 

 

Por Melissa Martins

Agente na Formação Cristã

Colégio dos Jesuítas é um dos pontos de arrecadação da campanha “Juiz de Fora Solidária”

Devido ao agravamento da pandemia, instituições que promovem atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social na cidade viram a demanda por alimentação aumentar. Desse modo, comprometido com a causa social, o Colégio dos Jesuítas está apoiando a campanha de Doação de Alimentos, “Juiz de Fora Solidária”, promovida pela Prefeitura.

 

Entre os dias 14 (Dia D da campanha) até 30 de abril, a portaria da instituição (Avenida Presidente Itamar Franco, 1.600) será um dos pontos de arrecadação de alimentos não perecíveis e de cestas básicas.  Os doadores poderão entregar os donativos de segunda a sexta-feira (das 7h às 18h), e aos sábados (das 7h às 13h), a pé ou de automóvel.

 

A instituição incentiva que educadores, estudantes e suas famílias abracem a iniciativa e colaborem, seja por meio da doação de alimentos ou pelo compartilhamento da informação.  Também destacamos que a instituição disponibilizará apenas um colaborador para receber as doações, que seguirá todos os protocolos de saúde, garantindo a sua própria segurança e a das pessoas que estarão contribuindo.

 

Mais informações sobre a campanha: www.pjf.mg.gov.br/

 

Inscrições para a Crisma 2021 acontecerão de 14 a 17/04

O setor de Formação Cristã do Colégio dos Jesuítas divulga as orientações para participação na Catequese Crisma 2021. As inscrições serão realizadas no período de 14/04 (a partir das 8h) a 17/04 (até às 23h59), por meio do Moodle (Curso Crisma 2021), acesso com usuário e senha do Responsável Financeiro do estudante.

 

Na oportunidade, poderão se inscrever estudantes do Ensino Médio Matutino e Ensino Médio Integral.

 

Os encontros  serão semanais e acontecerão de forma remota, no contraturno das aulas. Em caso de dúvidas, as famílias deverão entrar em contato com o setor de Formação Cristã, por meio do e-mail formacaocrista@coljes.com.br ou pelo telefone 32- 2101-5701.

 

Dia Nacional de Combate ao Bullying

Criado pela Lei 13.277 de 2016, 7 de abril é o Dia Nacional de Combate ao Bullying. Essa data marca o massacre de Realengo, bairro da cidade do Rio de Janeiro, onde um rapaz de 23 anos de idade que, sofreu Bullying na infância, entrou na escola e matou doze crianças, sendo dez meninas e dois meninos. Depois que ele foi atingido por um vigilante, cometeu suicídio, lamentavelmente. Contudo, essa situação poderia ser evitada com conhecimento a respeito do tema e, é este o intuito desse artigo.

 

O Bullying é um fenômeno social, manifestado de forma contrária às normas e valores coerentes à sociedade, expresso de maneira sutil e com características próprias, por tratar-se de um tipo de violência escolar.

Esse fenômeno não acontece a partir de um motivo pré-determinado e não se dá como conflitos normais ou brigas entre discentes e, sim, atos de intimidação repetida contra indivíduos vulneráveis e incapazes de defesa e a existência de espectadores que, por medo de se tornarem vítimas futuras ou por prazer em ver a dor alheia, não dão assistência aos padecentes desse mal.

Nesse contexto, a questão é muito mais complexa do que brincadeiras diárias entre discentes, pois a problemática enfrentada pela comunidade escolar emerge quando, involuntariamente, a vítima toma para si as agressões impostas pelo Bullying, permitindo-se sofrer em silêncio; essa dor é devastadora, podendo ser percebida pelo declínio em seu rendimento escolar, isolamento e ausência às aulas, explicada pelo fato de o seu agressor estudar, na maioria das vezes, na mesma sala.

 

Segundo a literatura acadêmica, existem relatos de vítimas que passaram a acreditar serem merecedoras de tamanha covardia diária, tendo seus sonhos e planos futuros ceifados, pois abandonaram a escola, contribuindo para o aumento das estatísticas de evasão escolar. Ao mesmo tempo em que a vítima não encontra ajuda necessária, capaz de lhe dar suporte, o intimidador também não encontra quem o faça cessar e/ou o conscientize e o sensibilize para a boa convivência em sociedade. É preciso interpretar o silêncio das vítimas, pois, sem o apoio de que elas precisam, jamais irão suportar as situações impostas pelo Bullying, pela própria vulnerabilidade frente ao fenômeno e, em decorrência disso, toda a comunidade escolar sofrerá por consequência.

Abordar o tema Bullying no âmbito escolar é, por consequência, almejar a prevenção ao suicídio, um problema de saúde pública e, embora a taxa de vítimas supere a da AIDS e de alguns casos de câncer, ainda assim, as pessoas fogem do assunto, justamente por falta de conhecimento, negligência ou medo. (OMC apud Associação Brasileira de Psiquiatria, 2014)

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, nove, em cada dez, casos de suicídio poderiam ser prevenidos e, vários são os fatores que podem levar crianças, adolescentes e adultos a cometerem esse ato extremo e, dentre esses, o Bullying. (OMC apud Associação Brasileira de Psiquiatria, 2014)

 

Assim, o espaço escolar ideal para as vítimas é aquele que proporciona a elas, um ambiente que as proteja de humilhações e intimidações e estimule a capacidade de defesa frente ao Bullying. A solução está na união de esforços entre poder público e sociedade, assumindo a existência do Bullying, em todos os lugares frequentáveis e, dessa forma, ter a possibilidade de agir em favor dos atores sociais presentes no espaço escolar, para que haja uma mudança real de comportamento e por consequência, a minimização, a prevenção e o combate eficaz ao Bullying.

 

Por fim, é urgente que tal temática seja abordada em sala de aula, pois segundo a minha pesquisa, três em cada dez alunos percebem a presença do Bullying no espaço escolar e, conscientizá-los é o papel da escola, pois acredito que, o espaço escolar deve oferecer meios de conscientização sobre o respeito e as regras de conduta frente ao coletivo, neutralizando possíveis ações transgressivas e, ao mesmo tempo, cumprindo o que está previsto na Lei 13.185 – Programa de Combate à Violência Sistemática, vigente em todo o território nacional.

 

Por: Profª Ms. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri

Palestrante e oferece treinamento sobre os temas: Bullying e Mobbing

Instagram: @bullyingbrasil
Facebook: @bullyingjulianabarbieri

 

Referências Bibliográficas

BARBIERI, J. M. O., ZANOELLO, T. B., IMAIZUMI, C. E. O. Bullying nos ambientes físico e virtual e suas implicações na seara do Direito, 2020. https://www.migalhas.com.br/depeso/335875/o-bullying-nos-ambientes-fisico-e-virtual-e-suas-implicacoes-na-seara-do-direito Acesso em: 25.03.2021

BARBIERI, J. M. O. Quando um projeto quebra o silêncio: ed. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, 2016.

BARBIERI, J. M. O. Desvendando e Prevenindo Bullying: a aplicabilidade da Lei 13.185, Araraquara: ed. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, 2016.

BARBIERI, J. M. O. Bullying: conhecimento é a melhor forma de prevenir, Araraquara: ed. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, 2016.

BARBIERI, J. M. O. Desvendando e prevenindo Bullying, Anais da VIII Amostra de Pesquisas em Educação / VIII Amostra de Pesquisas em Educação; Araraquara, p. 103, 2014. BARBIERI, J. M. O. Bullying: conhecimento é a melhor forma de prevenir, Araraquara: Suprema, 2013.

BRASIL. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13185.htm Acesso em: 02.12.2015.

OLIVEIRA, J. M. Indícios de Bullying no Ensino Médio de Araraquara/SP. Araraquara, 2007. OMC apud Associação Brasileira de Psiquiatria, cartilha SUICÍDIO: INFORMANDO PARA PREVENIR, 2014. http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14 Acesso em: 27.11.2017.