Cuidado com o próximo: Colégio dos Jesuítas entrega cestas básicas para a campanha “Juiz de Fora Solidária“

 

O Colégio dos Jesuítas realizou a entrega, nesta segunda-feira (19), de cestas básicas para a campanha “Juiz de Fora Solidária”, promovida pela Prefeitura, e na qual a instituição é um dos pontos de arrecadação. O número de doações (65) foi escolhido em referência ao aniversário de 65 anos do Colégio. Desse modo, a iniciativa teve o objetivo de contribuir com 65 famílias do município.

 

Durante a entrega dos donativos, o Diretor Acadêmico do Colégio, Pe. José Robson Silva Sousa, SJ, lembrou que o cuidado com o próximo é uma preocupação permanente da Companhia de Jesus, acentuada nesse tempo de pandemia.

 

“Vir ao encontro daquilo que a Prefeitura mobiliza, nos ajuda muito mais no caráter efetivo da solidariedade, uma vez que soma aquilo que a gente faz, na mobilização com os nossos estudantes e as suas famílias, com aquilo que a Prefeitura e seus parceiros fazem bem, que é a mobilização da logística de distribuição e de atendimento às pessoas mais vulneráveis”, afirmou.

 

Na avaliação do jesuíta, o sentimento para as famílias que precisam de ajuda é de prece atendida. E para a instituição, de missão cumprida. “No sentido de estarmos aqui para servir, ajudar e cuidar daqueles mais vulneráveis. É de saber que a gente está fazendo aquilo que Cristo nos seus Evangelhos pede: olhe os pequenos, mais frágeis, os pobres, os marginalizados. Missão cumprida naquilo que é a alteridade, a solidariedade”, partilhou.

 

Segundo o Secretário de Direitos Humanos de Juiz de Fora, Biel Rocha, várias instituições da cidade uniram-se em torno da causa. “E o Colégio dos Jesuítas foi uma das primeiras instituições de ensino que se mobilizou junto à gente. Isso nos deixou com uma satisfação muito grande de ver o empenho, não só do corpo técnico, dos professores, mas a gente tem visto nas redes, comentários dos pais, dos alunos, nesse empenho de somar nesse momento muito importante de solidariedade a quem tem fome”, relatou.

 

Ponto de arrecadação

 

Até 30 de abril, a portaria da instituição (Avenida Presidente Itamar Franco, 1.600) será um dos pontos de arrecadação de alimentos não perecíveis e de cestas básicas. Os doadores poderão entregar os donativos de segunda a sexta-feira (das 7h às 18h), e aos sábados (das 7h às 13h), a pé ou de automóvel.

 

Literatura e contação de história: tecendo perspectivas para a formação de um leitor

“Que meu conto seja belo e que se desenrole como um longo fio…”

 

Deixe-me falar de um tempo, um espaço, uma voz e um ouvinte, sim, porque, para se contar uma história, não se necessita de mais que isso, mas é preciso cuidado… o cuidar do outro. Quando alguém se propõe a contar uma história, espera que o outro a colha e ao mesmo tempo acolhe o seu ouvinte num espaço outro, o espaço do afeto. O tempo então se expande para outra dimensão, não é o imediato do agora, é o tempo da criação, aquele tão essencial para a cura de nossos medos, angústias, certezas e incertezas, desejos e entregas … das vozes que trazemos dentro de nós.

 

Por conseguinte, contar e ouvir histórias é um ato de afeto, pois tanto quem conta, quanto quem ouve se deixa afetar pela alteridade e cria um vínculo do que há de mais humano entre nós, o reconhecimento da casa comum que é a vida, do que nos move para uma finalidade maior que nosso amor-próprio, o amor fraterno. Por isso, Jesus fez das Parábolas um meio para nos afetar, nos levar para o outro mundo, aquele que nos permitiria vencer o nosso ego, para sermos mais e melhor para outro, o próximo.

 

Bem, caro(a) leitor(a), você deve ter notado que não especifiquei nenhuma faixa etária para o(a) ouvinte, nem para o(a) contador(a) de histórias. Se não o fiz, é porque a minha experiência me mostrou que não há. Normalmente se espera que o(a) contador(a) de histórias seja o adulto e a plateia seja a criança, mas, ao longo da minha vida profissional e pessoal, já encontrei grandes contadores de histórias entre as crianças e vários adultos com dificuldades para se disporem a serem ouvintes, portanto, a meu ver, não é uma questão de idade, é uma questão de disponibilidade para se entregar a essa experiência tão humana e atávica.

 

E o que a Literatura tem a ver com isso? Tudo. A Literatura é antes de tudo uma experiência estética que nos permite ouvir as vozes dos outros com os olhos, como brilhantemente escreveu Eduardo Galeano em seu conto “A função do Leitor/1”, e que nos leva a vivenciar outros lugares de ser e de estar, ampliando a nossa visão do mundo, das pessoas e de nós mesmos. Por isso, ela caminha de mãos dadas com a contação de história, já que uma alimenta a outra. Pois a oralidade precede a escrita, basta lembrarmos dos Contos de Fadas, que foram recolhidos das histórias contadas oralmente pelo povo. E o bom/a boa escritor(a) é, antes de tudo, um(a) excelente ouvinte das vozes que se perpetuam dentro de si e dentro do seu próximo.

 

 

Outra vez aqui não farei a distinção da faixa etária para a obra literária, pois, a meu ver, o texto literário, quando bem escrito, transcende a isso. Porque há obras extremamente maduras e sofisticadas enquanto provocação estética e de reflexão na Literatura dita Infantil, como há livros extremamente desprovidos disso na Literatura voltada para adultos.

 

E como separar o joio do trigo? Não há uma fórmula, tudo depende da formação do(da) leitor(a), ou seja, do quanto foi a ele/ela oferecido(a) de experiências para que ouvisse as vozes do seu próximo e fizesse uso da sua voz, para contar as suas histórias e as dos outros, quer seja oralmente ou através da escrita, num tempo/espaço da criação, no encontro e na entrega dos afetos que nos aproximam como irmãos. E se esse processo se inicia na infância, ele não se encerra nela, ou em nenhuma outra faixa etária, outrossim encaminha-se ao longo da vida de cada um de nós, ou seja, somos e seremos sempre, com maior ou menor disponibilidade, leitores em formação.

 

Portanto, este texto não se propôs a qualificar e a especificar as ferramentas pedagógicas para a formação do(da) leitor(a), deixo isso para um outro momento, e peço antecipadamente desculpas se isso lhe possa ter causado, amigo(a) leitor(a), alguma frustração, mas o que eu queria mesmo é lhe comover, lhe provocar, para que, quem sabe, você se sentisse disponível a ouvir ou contar uma história… seja ela oral ou escrita. Assim, juntos, num espaço de afeto, desenrolaríamos os fios de nossas vidas e teceríamos um encontro de amor fraterno. Por isso… “essa história entrou por uma porta e saiu pela outra, quem quiser que conte outra”.

 

Por Magali Machado Silva Jobim

Professora

 

Referências bibliográficas

 

  • ALBERGARIA, Lino. Do folhetim à literatura infantil: leitor, memória e identidade. Belo
    Horizonte, MG: Ed. Lê,1996.

 

  • BUSATO, Cléo. A arte de contar histórias no século XXI. Tradição e Ciberespaço. Petrópolis, RJ:
    Vozes, 2006.

 

  • COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática – 1 ed. São Paulo:
    Moderna, 2000.

 

  • MARIA, Luzia de. Amor Literário: dez instigantes roteiros para você viajar pela cultura letrada.
    Rio de Janeiro: Ler &Cultivar editora, 2016.

 

  • MATOS, Gislayne Avelar. A palavra do contador de histórias: sua dimensão educativa na
    contemporaneidade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

 

  • MATOS, Gislayne Avelar, SORSY, Ino. O ofício do contador de histórias: perguntas e respostas, exercícios práticos e um repertório para encantar. São Paulo: Martins Fontes, 2005.